Senhor Dr. António Costa,

Tomo a liberdade de lhe escrever na sua condição de primeiro-ministro do meu país, só porque é muito grande e crescente a preocupação que tenho vindo a sentir em relação ao estado de seca extrema em que se encontra Portugal continental, sem que veja qualquer indício de que alguma autoridade pública, em especial o seu Governo, haja já tomado medidas no sentido de solucionar, ou pelo menos minorar para níveis não alarmantes, a gravíssima situação actual.

Ora, a meu ver, esta aparente inacção das nossas autoridades é de todo incompreensível, já que, logo a seguir à falta de ar para respirar, a escassez extrema de água limpa representa, sem dúvida, a mais grave situação externa que (juntamente com as guerras nucleares) pode pôr em perigo a sobrevivência da vida humana, animal e vegetal.

De resto, e pertencendo eu ao grupo dos mais idosos cidadãos do nosso país, não me lembro de ter jamais passado por uma carência de água de intensidade semelhante. Facto que me leva a classificar o que está a acontecer-nos como “o grau zero da governação”, deste ponto de vista.

Sei que há países – como Israel – cujo território, que era inicialmente um deserto, foi sendo transformado quase num oásis, graças à ciência, à técnica e à vontade política. Ou seja: hoje em dia é possível, desde que se leve isso a sério, transformar o território português – que está cada vez mais em vias de se tornar a continuação dos desertos do norte de África – num país verdejante e sem nenhuma falta de água, tal como era nos tempos da minha infância e juventude.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Ora, para que esse processo se torne realidade, terá que proceder-se à dessalinização da água do mar em larga escala – e é sabido que o senhor Embaixador de Israel, aliás, já se ofereceu publicamente para ajudar os técnicos adequados do nosso país a “percorrerem o caminho das pedras” no país que ele aqui representa (como nós costumamos dizer), já que Israel é, segundo creio, o país do mundo mais avançado deste ponto de vista.

Atrevo-me assim, senhor PM, a vir publicamente chamar a sua atenção para este problema, porque, obviamente, ele poderá em breve tornar-se trágico para quem viva em Portugal, apesar de dispormos duma enorme costa marítima. E se o faço, é porque têm sido demasiadas as vezes em que vi o governo não actuar em devido tempo, quando era muito fácil perceber a urgente necessidade que havia de concretizar múltiplas soluções, sem as quais determinados problemas nossos, também muito graves, só poderiam ir-se agravando cada vez mais.

A maioria absoluta de que o seu governo actualmente dispõe, tanto pode ser um trunfo importantíssimo, como também pode tornar-se uma autêntica maldição – consoante o que seja a sua vontade política, e a capacidade que os seus ministros revelem para encontrar (e concretizar) as melhores soluções para os graves problemas colectivos que entre nós se têm acumulado, em múltiplos domínios.

Oxalá Vª Exa não leve a mal esta iniciativa dum cidadão “anónimo” que, de resto, não possui credenciais nenhumas na matéria em causa.

Muito respeitosamente,

António Silva Carvalho (médico reformado)