Esta é a frase que começa a fazer caminho de forma acelerada em Portugal. Dirige-se à forma como alguém vence eleições, apesar de ter sido declarado morto e enterrado por figuras proeminentes da sociedade: políticos, comentadores, jornalistas e respetivos meios de comunicação social.
Os erros nas sondagens foram o primeiro sinal desta descredibilização dos que, supostamente, ditam a opinião dominante. Neste cenário, a comunicação social tem vindo a ser alvo de duras críticas, pela forma como, através da sua ação, pode condicionar resultados. Os jornais, as rádios e as televisões têm vindo a ser acusados de não cumprirem o seu papel como veículo de informação, garante do debate de ideias e da diversidade de opiniões. São cada vez mais os que acusam os diversos meios de comunicação social de refletirem predominantemente apenas um lado da história.
Carlos Moedas primeiro e agora também Rui Rio fizeram questão de verbalizar a crítica no momento da vitória. Quando dizem que ganharam contra tudo e contra todos estão a dirigir-se aos adversários políticos, mas também aos meios de comunicação social que objetivamente os prejudicaram em campanha. E os resultados eleitorais vieram provar que uns e outros estavam errados. Resultado: há a realidade virtual da elite de Lisboa e depois há o país real. Custe o que custar, a verdade é que as eleições provaram que têm razão.
Este é um fenómeno que devia obrigar a uma reflexão séria nas redações, sob pena de começar a acontecer ao jornalismo o mesmo que já aconteceu na política. Os políticos são hoje olhados com desconfiança, acusados de só pensarem em lugares e de serem permeáveis à corrupção. Basta vestir a pele de jornalista e ouvir a opinião do cidadão comum para perceber que este é o juízo que começa também a ser feito sobre a comunicação social. As generalizações são sempre injustas, mas a verdade é que captam uma tendência que não deve ser ignorada.
O tema é grave e deve ser encarado de frente. Os meios de comunicação social não podem refletir repetidamente um país ilusório que não tem correspondência com a realidade na hora de contar os votos. Para fazer o seu trabalho, não basta aos OCS fazerem o mesmo de sempre, ouvirem os mesmos de sempre e fazerem todos as mesmas perguntas aos mesmos protagonistas. A verdade é que cada vez é mais raro ouvirmos alguém, do jornalista ao comentador, dizer que “o rei vai nu”. Também é verdade que a melhor forma de apreender a realidade é auscultar as pessoas comuns e não apenas alguns eleitos que tendem a ser sempre os mesmos. Não falo dos célebres vox pop, falo da capacidade de saber perceber o que vai na alma das pessoas comuns que andam nos transportes públicos, nos centros comerciais, nas vilas e nas aldeias. É aí que os jornalistas deixaram de andar, preferindo ouvir os mesmos que estão mais à mão e que criam a ilusão de ditar a tendência.
Tenho muitas dúvidas sobre a pretensa isenção da comunicação social, sempre tive, mas à medida que o tempo passa sinto que a credibilidade do jornalismo se faz assumindo de forma transparente opções editoriais claras. A indefinição ajuda à confusão e a confusão limita a liberdade. Ao contrário, o contraste de opiniões, de abordagens e de linhas editoriais ajudam à clarificação, abrem novos caminhos, logo, aumentam a qualidade do jornalismo e da democracia.
O jornalismo livre, forte e responsável é um fator indispensável à democracia, por isso os sinais dos últimos tempos não podem nem devem passar ao lado dos jornalistas portugueses.