Até ao próximo dia 12, o mundo vai estar com os olhos “verde-esperança” no Dubai, que será palco da 28ª conferência climática da ONU. Por 27 vezes, líderes mundiais acompanhados por milhares de participantes e por uma crescente amplificação mediática, juntaram-se para resolver os desafios ambientais do Planeta que, desde 2015, apontaram todas as armas ao aumento da temperatura global. Em total contraciclo com todos os desígnios, especialistas assinalam que este último ano foi o mais quente alguma vez registado, ao ponto de o Brasil – que conta com o “Pulmão do Mundo” – viver uma sensação térmica bizarra que, recentemente, atingiu os 50 graus. Numa cimeira que inicia um balanço efetivo dos oito anos do Acordo Climático de Paris, não é preciso ser especialista para concluir que estamos bem longe de cumprir os objetivos.

Neste rumo de um Planeta cada vez mais frágil e que “grita” connosco, com uma cadência crescente de tempestades, cheias, sismos, temperaturas inesperadas e falência de ecossistemas e espécies, junta-se um outro mal, se não igual ainda maior: o risco de a opinião pública global deixar de acreditar nos decisores e no seu próprio papel ativo, atirando a toalha ao chão. O pior que nos pode acontecer, após reconhecidas diligências, COPs, iniciativas de sensibilização e as mais recentes inovações em prol do Planeta, é a opinião publica sentir, justa ou injustamente, que todas estas iniciativas, mais do que “não aquecem, nem arrefecem”, só aquecem e não arrefecem.

Em plena realização desta “Conferência das Partes” é inevitável falar da nossa parte. Pode soar a demagogia, a repetição, a inalcançável, ou para nichos e até às vezes assombrado por movimentos ambientalistas, mais ou menos radicais, que nos afastam da causa, mas não podemos entregar o rumo do Planeta apenas a terceiros pois muito de nós – onde me incluo – também somos parte do problema. E podemos e devemos ser parte da solução. Consciente de que é preciso muito tempo – tempo que não temos – para mudar mentalidades e comportamentos, podemos e devemos trabalhar em pequenas escolhas.

É impossível ir a ‘todas’, conseguir ser um pleno ambientalista, mas podemos escolher qual o comportamento que nos faz fito e assumi-lo verdadeiramente, pois neste caso a intermitência faz também ambientalistas intermitentes. E agora precisamos de coesão. E de consistência. Precisamos de correr pelas causas que apoiamos, tal como corremos na passada Black Friday a descontos que geraram vendas online na ordem dos 70,9 mil milhões de dólares à escala global, segundo a Salesforce.

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Uma das causas que tem sido verdadeiramente negligenciada na mente da população global – talvez pela sua profundidade, magnitude e desconhecimento – tem sido o Oceano, uma parte fundamental do sistema climático e da resposta global às suas alterações, uma vez que é o principal sequestrador de carbono do mundo. Cobrindo cerca de 71% da nossa superfície, segundo o relatório do diálogo sobre os oceanos e o clima, cuja reunião informal foi convocada pelos seus copromotores durante a COP28, o Oceano absorveu cerca de 90% do calor gerado pelo aumento de emissões de gases com efeito de estufa retidas no sistema terrestre e cerca de 25% das emissões de carbono. O seu desequilíbrio causa impactos devastadores e aumenta os riscos para a biodiversidade, para os ecossistemas e comunidades costeiras, com um desmesurado impacto para nós tanto ambiental, como alimentar e no limite de sobrevivência.

Face estes dados, já impossíveis de ignorar, é chegada a hora de colocar, literalmente, a água na fervura de um Planeta e de um Oceano cada vez mais quentes e insustentáveis. Para isso, é fundamental que desta COP28 saiam acordos e medidas concretas de protecção e restauro do Oceano e, acima de tudo, que as pessoas, de forma transversal, se aproximem mais dele.

A aprovação, no primeiro dia da Cimeira, do chamado Fundo de Perdas e Danos para apoiar os países mais vulneráveis e o facto de este contar já com cerca de 245 milhões de dólares, parece ser um passo determinado e no sentido da acção, apesar de manifestamente insuficiente (lembremo-nos que os custos com os danos relacionados pelo impacto do clima estão estimados, anualmente, entre 280 mil milhões e 580 mil milhões de dólares até 2030).

Que esta COP28 inspire os decisores e sociedade civil à escala global a “aquecerem” a aceleração das medidas e não a arrefecerem a nossa esperança.