Por todo o lado, lembretes do Coronation Day, para o qual Londres, mais do que qualquer outra cidade do mundo ou até do RU, está neste momento em vertiginoso “countdown”.

Mas porquê tanta ansiedade? Porque o Coronation Day vai simplesmente trazê-la para o epicentro, o olho do mundo. E Londres ou a cultura britânica vai ter a oportunidade de dar cartas no espectáculo em que é mestra, e ao qual a monarquia se presta de um jeito em que a república será sempre derrotada.

Sim, há uma grande espectáculo a ser preparado desde que Buckingham Palace anunciou em Outubro de 2022 que a coroação de Carlos III seria a 6 de maio do ano seguinte, na costumeira Abadia de Westminster, onde desde Guilherme o Conquistador (1066-1087) e com a excepção de dois monarcas, todos os outros foram coroados, anunciou também que esse momento cume da monarquia constitucional pela qual este país é famoso, iria ser fiel à tradição e à ostentação ( pageantry) o que sabemos já significa corresponder às expectativas de quem a ele assiste e tem fasquias de comparação elevadas, como o jubileu da rainha ou os casamentos de William e Harry.

Finalmente, Buckingham Palace lançou aos súbditos o repto de que para repercutissem por todos os cantos do reino e da Commonwealth (não esquecer) o estado de júbilo nacional, mostrando como a monarquia é o regime dos seus corações e convive bem com a velha democracia britânica.

Este ponto é importante: a monarquia é tanto uma festa do Estado como popular, uma festa dos dignatários e do povo e pretende ser o mais inclusiva possível.

A reforçar como o tempo é de festança, a semana vai ser curta, tanto esta como a próxima, o que num país que não é pródigo em feriados porque se viu livre dos feriados católicos é excepcional : esta segunda-feira foi “bank holiday” e na próxima também o vai ser.

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Para o dia da coroação real, também o comércio e a comunicação social nos alertam há meses, convidando os londrinos a juntarem-se aos festejos. Os supermercados aproveitam para vender produtos tipicamente britânicos, como os  scones, o Victoria sponge cake, os biscoitos shortbread, nada de novo sob o sol, diga-se, excepto a embalagem destas farinhas adocicadas tanto ao gosto do palato inglês (porque os olhos também comem), e por isso multiplicam-se as caixas especialmente coloridas, com o logo criado para o Coronation Day, uma coroa entre bandeirinhas coloridas.

Hesito um minuto se devo comprar aquela memorabilia, aquelas recordações de um dia histórico, que um dia terão valor de coleção.

Hesito sobretudo por uma questão um pouco egocêntrica: afinal é o meu dia de anos, e nunca mais vou ter a oportunidade de o ter gravado numa caixa de biscoitos..

Para já, resisto à compra, também aqui as casas se enchem de muita traquitana e não sou nada de acumular tarecos sem utilidade.

Pelas lojas de vinho, que aqui se multiplicam desde o início da pandemia, levando-me a crer que é um negócio rentável, vejo vinhos importados de todo o mundo, visto que o RU não os produz, sendo neste momento dizem- me até o maior consumidor de vinhos portugueses, também eles foram etiquetados para o Coronation Day. Iam lá as lojas de vinhos perder a oportunidade de fazer lucro a reboque do grande dia!

Nas prateleiras nos supermercados mais acanhados, conseguiu-se libertar um recanto para  pratos e copos descartáveis, balões coloridos, palhinhas, cartões, canetas e outros produtos de papelaria, à semelhança dos produtos criados para o jubileu da Rainha, esperando-se que os londrinos repliquem pelas suas casas, jardins e parques,
lanches e piqueniques com estes imperdíveis objectos!

Corresponderão ao apelo? Será a monarquia constitucional um regime a que os britânicos trazem no coração ou será apenas um regime com o qual coabitam mais por hábito do que por convicção?

Espero daqui a cinco dias auscultar melhor o coração da nação.