Há pouco mais de um século, em 1918, o mundo deparava-se com dois dos maiores problemas dos quais há memória no séc. XX: a I Guerra Mundial e a Gripe Espanhola: a última verdadeira pandemia antes do Covid-19 que hoje combatemos. Certamente os registos da época não são tão completos como os que hoje fazemos, mas, ainda assim, há algumas lições que podemos aprender sobre a retoma da vida outrora estagnada pelo incontornável confinamento.

Com sintomas pouco diferentes dos provocados pelo Covid-19, a Pneumónica afetou pouco menos de um terço da população mundial atacando com uma taxa de mortalidade avassaladora. Certamente as condições de higiene não eram as mesmas de hoje em dia, a guerra obrigava os soldados a constantes viagens e a vida nas trincheiras deixava os combatentes debilitados e mais expostos a perigos sanitários. No entanto, existem algumas semelhanças entre as duas epidemias sobre as quais nos pudemos debruçar.

Com a chegada da Gripe Espanhola aos Estados Unidos da América, muitas foram as grandes metrópoles que implementaram fortes medidas de isolamento social como forma de prevenção do contágio geral dos habitantes. Várias comunidades fecharam as suas lojas, os funerais eram feitos sem presença dos familiares e os corpos enterrados em valas comuns e apenas os serviços verdadeiramente essenciais puderam manter as suas portas abertas.

Certo é que, ao proteger a saúde pública recorrendo ao distanciamento social, a economia é a primeira prejudicada por se ver reduzida a níveis mínimos históricos. Hoje, esse é o assunto que a par com a saúde preocupa não só os profissionais da área, como todos os que perdem o emprego, os que se vêm obrigados a fechar o negócio e tantos outros exemplos. Contudo, se olharmos para o exemplo dos nossos antepassados, percebemos que talvez possamos ser menos pessimistas.

Apesar dos poucos dados referentes à economia deixados pela Gripe Espanhola, percebemos que os impactos por ela causados não foram tão brutais como podíamos imaginar. Durante a pandemia, vários negócios registaram lucros reduzidos para metade nos focos mais persistentes da doença e muitos acabaram mesmo por fechar, o PIB dos estados americanos mais afetados diminuiu em média 18% e os juros sobre os empréstimos aumentaram visivelmente face ao maior risco de incumprimento. Mas nem tudo foi desastroso. Pode provar-se que as cidades onde o isolamento social fora mais precoce e agressivo registaram um aumento relativo nas suas atividades económicas quando foi possível reabrir os negócios, atenuando a queda do PIB nacional para algo quase insignificante. Além disso, há sempre oportunidades para o crescimento de alguns mercados, como foi exemplo, em 1918, o crescimento do comércio de colchões e, hoje, o exemplo dos sites de vendas on-line ou de streaming de séries e filmes para entreter os mais aborrecidos.

É evidente que todas as crises desta natureza trazem uma contração económica devido ao decréscimo na oferta e na procura de determinados bens, um aumento do uso dos serviços de apoio social e uma redução na mão de obra que leva a um consequente aumento nos salários, mais notáveis nas regiões mais afetadas. Resta-nos esperar que, sabendo que não se trata de uma crise estrutural, possamos regressar à normalidade com a esperança de que o que sucedeu há um século atrás se volte a repetir.

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