Este ano, o Mobile World Congress, que se realiza até ao fim do mês em Barcelona e que se tornou mais do que apenas um dos maiores eventos dedicados às telecomunicações móveis, irá ter como um dos temas-chave a Inteligência Artificial (IA).

De acordo com a IDC, empresas gastaram, em 2018, a nível mundial, 24 mil milhões de dólares em sistemas de IA. Start-ups, grandes empresas e investigadores académicos têm testado tecnologias como machine learning, computer vision e natural language processing e utilizam-nas com formas avançadas de análise de dados e técnicas de automação.

Esta situação criou uma infinidade de aplicações e dispositivos inteligentes, muitos dos quais estarão em exibição e em discussão no MWC 2019. Cada vez mais, a IA aplicada está literalmente à espreita. Quais as principais tendências que nos esperam no MWC?

Impacto social da IA

Quanto mais sofisticada a IA se torna mais a vemos ser aplicada, sobretudo na contribuição para um bem comum.

Um exemplo é a redução do consumo energético e, consequentemente, das emissões de CO2 nocivas para o clima, em larga escala. Tomemos como exemplo o metro de Madrid, que transporta 2 milhões de pessoas por dia, ao longo de 300 quilómetros de linha e 300 estações. A infraestrutura utiliza um sistema de ventilação de autoaprendizagem que gera uma redução de 1.800 toneladas nas emissões de CO2. A Accenture esteve, com muito orgulho, envolvida neste projeto e terá oportunidade de o demonstrar no MWC.

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Alguns dos casos de estudo de utilização da IA e de advanced analytics que veremos no MWC irão inclusive esclarecer-nos quanto à dark web. O tráfico de drogas ilegais, por exemplo, está a movimentar-se cada vez mais no online. Tecnologias e técnicas como o reconhecimento de imagem, a extração de texto e métodos avançados de clustering, dão às autoridades a oportunidade de descobrir onde, na dark web, estão a ser vendidos certos narcóticos e em que quantidades. Isto permite a deteção de tendências emergentes de “marketing de narcóticos”.

Impacto da IA no local de trabalho

No MWC, teremos a oportunidade de ver como as pessoas e as tecnologias inteligentes colaboram em tarefas complexas e reduzem o risco para os colaboradores de uma empresa.

Podemos esperar exemplos de computer vision e video analytics a serem aplicadas para manter os colaboradores fora de perigo, ao monitorizar ambientes de trabalho perigosos e emitir alertas em caso de perigo. Antecipamos também a exibição de sistemas que dependem da combinação entre a visão computacional e modelos de classificação de aprendizagem profunda – que permitem por exemplo a equipas técnicas, a comparação entre etiquetas impressas ou manuscritas em peças de reposição com o componente atual, simplesmente tirando fotografias com um smartphone.

Os casos de estudo para smart glasses irão estar bastante desenvolvidos no MWC 2019. Podemos tomar como exemplo os testes de qualidade em laboratórios farmacêuticos. Os medicamentos estão progressivamente a ser produzidos em dosagens mais pequenas, na medida em que as substâncias estão a ser cada vez mais adaptadas ao indivíduo. Os smart glasses permitirão orientar os técnicos de laboratório durante os procedimentos de teste, recolhendo dados em cada etapa, que são analisados para detetar e evitar riscos e falhas nos processos de trabalho.

Facilmente se subestimam os efeitos positivos que a colaboração homem-máquina podem ter no local de trabalho. Num estudo recente da Accenture, 91% de membros de Conselhos de Administração, afirmam que novas tecnologias, como IA, poderão ser utilizadas para liberar o valor que atualmente está retido nas empresas.

Também um estudo do MIT demonstra que, em comparação com a abordagem tradicional de segregação de seres humanos e máquinas inteligentes, a formação, por outro lado, de equipas mistas reduz em 85% os tempos de inactividade/ociosidade. Na verdade, este estudo revela ainda que os funcionários preferem mesmo trabalhar com assistentes inteligentes.

Impacto da IA no consumidor e na experiência de compra

A visão computacional e o reconhecimento de imagem estão a transformar o mundo do retalho. Nesta edição do MWC iremos ver exemplos de como as câmaras conseguem determinar o estilo e perfil das pessoas que frequentam uma loja, baseado no género, idade, roupa e até mesmo o penteado. A recolha e análise deste tipo de informação permite aos retalhistas a adaptação das suas lojas ao tipo de clientes que as frequentam.

A IA não está apenas a ajudar a orientar o processo de compra. Está também a oferecer assistência aos consumidores sobre como utilizar os produtos. Imaginemos um estojo de maquilhagem que reconhece o batom e o pó que se coloca dentro dele. O espelho inteligente do estojo identifica a aparência e a cor do cabelo e dos olhos da pessoa, e explica como aplicar o batom e o pó da melhor maneira – ou talvez recomende outra opção.

Reutilizando a expressão de que as tecnologias inteligentes estão a ver tudo o que fazemos, as marcas e os retalhistas podem recolher informação sobre o consumidor e fazer pesquisas de mercado, ao combiná-los com realidade virtual (RV). Um dos casos que iremos ver no MWC é o de uma empresa de bens de consumo que integrou uma tecnologia eye-tracking num dispositivo de RV para fazer o consumidor imergir numa loja simulada, à escala real. Ao avaliar o modo como os consumidores se deslocavam pelo espaço, escolhiam produtos e os colocavam no carrinho, a empresa obteve insights sobre qual a localização mais eficaz para colocar novos produtos. Esta experiência durante a fase de teste permitiu um aumento de vendas em 18%.

Impacto ético das consequências não intencionais da IA

O MWC é uma prova do impacto que a IA e as tecnologias inteligentes têm na nossa vida. Estas tecnologias estão a modificar as empresas desde a sua raiz, permitindo processos de negócio autodidatas que se podem adaptar aos comportamentos, preferências e necessidades dos clientes e dos colaboradores.

Estes desenvolvimentos comportam a obrigação de utilizar estas tecnologias de forma responsável – algo que também será reconhecido no MWC. A agenda deste ano inclui vários temas e painéis de debate sobre IA e ética. As empresas presentes, incluindo a Accenture, irão abordar estas temáticas nos workshops e soluções que serão apresentadas nos seus stands.

O uso responsável da IA significa, por exemplo, “desligar a ficha” imediatamente quando vemos o preconceito humano a evidenciar-se nos algoritmos – como a Amazon fez, por exemplo, no ano passado, com uma ferramenta de recrutamento que estava tendencialmente contra as mulheres. A questão que se coloca é como poderemos então ajudar a diferenciar e descriminar os outputs gerados pela IA?

Em primeiro lugar, não nos enganarmos a nós próprios, fazendo crer que a culpa é da IA. Os algoritmos e os modelos são desenvolvidos por pessoas; eles aprendem e agem de acordo com a informação que é gerada pela forma como vivemos, trabalhamos e geramos negócios. Em segundo lugar, educando todos os que criam e configuram sistemas de IA para a utilização responsável deste tipo de tecnologia. Em terceiro, equipando-os com ferramentas e métodos para descoberta de blind spots e resultados injustos antes que estes causem danos de qualquer tipo. Educar para uma utilização responsável da IA, não apenas data scientists e programadores, mas também colaboradores, executivos e todos os envolvidos, até ao Conselho de Administração.

Um deslize na IA pode romper laços existentes e quebrar a confiança entre empresas e forças de trabalho, entre clientes e a sociedade. Isto significa que a IA já não é simplesmente um “nice to have”. É fulcral construir e reforçar a confiança que as empresas precisam para ter sucesso e tirar o máximo partido da Inteligência Artificial.

Accenture Applied Inteligence Lead em Portugal