Com mais de duas décadas de experiência na indústria tecnológica, desde o ambiente universitário até à atualidade, a minha jornada dá-me uma visão única sobre um tema, a meu ver essencial para o futuro da tecnologia: como aumentar a diversidade de género no setor.

Há 20 anos, no curso de Engenharia Informática na universidade éramos apenas dez mulheres numa turma de mais de duzentos. Apesar do óbvio desequilíbrio, embarquei numa carreira enriquecedora na indústria de tecnologia, acompanhando de perto a sua evolução ao longo dos anos.

É encorajador ver um número crescente de mulheres a abraçar carreiras na tecnologia e assim contribuir significativamente para a inovação em todos os setores. No entanto, é evidente que ainda estamos muito longe do ideal quando se trata de equilibrar a representação de género. A disparidade persiste, e as barreiras também.

A primeira lição que aprendi nesta jornada é que, para promover a diversidade, precisamos de  desde cedo a incentivar a curiosidade para a tecnologia e garantir que as meninas tenham tantas oportunidades de acesso à formação em STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) quanto os meninos. Afinal de contas, a matemática é divertida: e a aprendizagem destas disciplinas deve ser cativante e envolvente desde a infância. As meninas devem sentir-se empolgadas e encorajadas a explorar o mundo da tecnologia, sem barreiras.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

No entanto, o problema não se limita à infância. Na idade adulta, as mulheres ainda enfrentam obstáculos significativos. Muitas vezes, são prejudicadas por uma sociedade patriarcal que usa desculpas como a maternidade para impedir o crescimento profissional das mulheres. É imprescindível reconhecer que as mulheres trazem perspetivas únicas, uma capacidade inerente de trabalhar em várias frentes e sob pressão, e conseguem muitas vezes pensar fora da caixa. Isso é uma vantagem valiosa para qualquer empresa que escolha investir em diversidade de verdade.

Para isso, é crucial fornecer ferramentas para que as mulheres possam conciliar as suas vidas pessoais e profissionais. Flexibilidade de horário, trabalho híbrido ou remoto e apoio a infantários e creches são medidas essenciais. Adicionalmente, o foco deve estar no desempenho, não nas horas trabalhadas. Esta mudança de paradigma é favorável para todos, pois coloca ênfase na produtividade e na entrega de resultados, beneficiando as empresas e os seus colaboradores, criando um ambiente de trabalho mais flexível e adaptado às exigências atuais.

A mentoria é igualmente uma componente vital nesta jornada rumo à diversidade. As empresas desempenham um papel fundamental ao cultivar uma cultura de mentoria. Programas internos podem incentivar a colaboração entre equipas e dar visibilidade às conquistas e competência das mulheres, ajudando-as a avançar nas suas carreiras.

Organizações como a “Portuguese Women in Tech” também desempenham um papel vital neste processo. Os programas de mentoria conectam mulheres em diferentes estágios das suas carreiras, permitindo a transferência de conhecimento e experiência. Eles proporcionam um espaço seguro para que as mulheres discutam os seus desafios e metas profissionais, oferecendo orientação valiosa para o sucesso. A mentoria cria oportunidades para as mulheres avançarem nas suas carreiras, mas também enriquece as empresas com uma força de trabalho diversificada e inovadora, pronta para enfrentar qualquer desafio.

À medida que avançamos no futuro da tecnologia, desafio todos a agir. Comecem cedo, incentivem as meninas a abraçarem a tecnologia. Eliminem os obstáculos que impedem as mulheres de alcançar o seu potencial pleno. Apoiem programas e organizações que promovem a diversidade. Abracem a diversidade não apenas como um objetivo nobre, mas como um catalisador para o crescimento e sucesso no mundo tecnológico em constante evolução. O futuro da tecnologia é diverso, inclusivo e emocionante. É um futuro que todos nós podemos e devemos ajudar a construir.

Cláudia Macedo é licenciada em Engenharia de Informática e Computadores pelo Instituto Superior Técnico e conta com mais de 20 anos de experiência na indústria tecnológica. Iniciou a carreira ocupando cargos em desenvolvimento de software. Nos últimos anos, concentrou os seus esforços a ajudar empresas do setor a aprimorar as suas estratégias de marketing, fazendo uso do seu conhecimento tecnológico.

O Observador associa-se à comunidade Portuguese Women in Tech para dar voz às mulheres que compõe o ecossistema tecnológico português. O artigo representa a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da comunidade.