Dia 7 de Outubro é o dia em que se festeja Nossa Senhora do Rosário, dia este que remete para o ano de 1571, para a Batalha de Lepanto, quando se travou a expansão otomana no Mediterrâneo, algo que, aparentemente, já nada significa, muito menos se trava… Por ter sido feita uma procissão do Rosário neste mesmo dia em Roma, associou-se tal a singular graça e intervenção. A celebração deste dia foi instituída logo no primeiro aniversário deste acontecimento histórico tido como marcante pelo então Papa Pio V. Até Hoje.

De resto, em Portugal a mesma data dá conta de uma devoção desde que existe portugalidade, senão mesmo antes, muito enraizada na identidade e na cultura e reforçada pela Nossa Senhora do Rosário de Fátima, a qual, fatalmente, considerada um dos nossos três Fs fundamentais…

Enfim, tudo isto acima cabe apenas para salientar que quando o casamento da infanta da institucionalmente considerada Casa Real de Portugal foi anunciado para um tal dia 7 de Outubro, na Comunicação Social tal veio ressaltado como sendo apenas dois dias depois ou na mesma semana do… Uma questão de, digamos, desprecedências… ou da precedência da data do dia sobre a data do ano…

Não se imaginaria que a tão apagada celebração da nossa não democrática implantação republicana, que tão sólidos transeuntes atrai ao Largo do Município de Lisboa, se deixaria deslustrar por um simples casamento transmitido televisivamente… Não se vincou a laica data bem distintamente já da outra data, religiosa? Pois se o laico pretende ultrapassar o religioso e o já anacrónico 5 de outubro, não fosse ser feriado, cada vez pouco mais significa que uma já longínqua mudança de regime. Em que uma minoritária elite de republicanos impôs o seu regime sobre uma maioria popular de monárquicos, sem nunca referendar a natureza do mesmo.

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Historicamente se comprova que a república, na sua primeira implementação, não significou mais liberdade, pois que tal antes mais havia, fosse de expressão, fosse de direito de voto. Nunca se materializou no progresso prometido, pois que regredimos do nível médio europeu onde então nos situávamos para o nível da cauda. Até hoje. Sequer significou estabilidade política, ou tolerância civil, ou ética, ou moralidade, ou mais democracia. Não, o início da República não foi o fim de uma ditadura ou de um regime de repressão ou de isolamento dentro do quadro das grandes nações. Na força da sua implantação significou perseguição absurda, apropriamentos abusivos, repressão colérica, sectarismo ideológico, um estado de quase guerrilha e a entrada voluntariosa na Guerra Mundial, sem sequer termos recebido um convite como deve ser para a mesma. Hoje significa – a cada ano mais se comprova – apenas o marcar de uma mudança nominal de regime.

Já em relação à Batalha de Lepanto, há quem afirme que poderá ser revista na envelhecida e muito laica Europa, mas de um outro modo, mais pacífico e mais interiorizado.

A sinalização do nosso 5 de Outubro também marca um adiamento do necessário entendimento, dito democrático, do passado. Como se antes fosse pré-história. Agora é possível a um qualquer vulgar cidadão da república ascender a presidente da mesma. Possível, só que não plausível. Possível, só que uma possibilidade fantástica. Como num concurso televisivo, em que a realidade se escreve e se pronuncia reality, a possibilidade de ser o escolhido pelo público – mas sabendo-se que, de antemão, por detrás, por via de uma outra mão, oculta, as coisas são previamente escolhidas, por quem detentor do real poder. E será possível, sequer, um debate institucional ou um referendo à natureza republicana, que nunca anti-democrática, do mesmo regime que um dia não democraticamente se “implantou”? Não, tal não é mesmo possível… Constitucionalmente.

Possível foi, porém, assistir a um raro momento de revelação do país a si próprio. A começar com a indignação com tanta importância mediática dada a uma Família não eleita democraticamente num qualquer recente plebiscito (proibido, pois). Isso, quando cada vez mais vivemos num círculo de ilusórias, insubstanciais, esporádicas e totalmente perplexantes celebridades. Porque vivemos numa república abundante de transitórias enormidades, de asfixiantes energumeridades, onde, tantas vezes, é fácil confundirem-se as noções essenciais.

Vivemos numa Liberdade de proibições veladas que o tardio despontar de uma verdadeira direita política finalmente vai expondo. Porque as figuras públicas ou as que, pelo menos, desempenham este papel e que tudo pretendem preencher de vácuo existencial, as que nos impingem sofregamente, são as que encartadas pelo politicamente ditado, republicamente inspiradas. Seguidamente, ensaia-se o argumento do escândalo de acordo com a ética e que afinal a razão do mesmo é dos dinheiros públicos mal gastos – num país em crise desde sempre. E não é que o sofisma coincide com o anunciar de mais um mega evento futebolístico onde, ávida e outra vez mais, Portugal, no seu todo, foi arrastado. O mofo e o bafio de tudo isto.

Porque sim, porque cumpre o seu triste fado- A partir do submundo internáutico, em massa, gentes marcadamente seletas, assim como circunspectas, acusam as celebrações do enlace matrimonial de serem “parolas”, “pacóvias”, “patéticas”… Citando. Uma questão de bom gosto, portanto. Não se pasme quem puder. Talvez fosse pelos trajes formais e sem a criatividade, nudez e irreverência de uma gala qualquer das televisões e revistas. Talvez fosse pelo folclore mais genuíno e não o deturpado e comercial e, de resto, imitante das mais recentes modas externas. Ou talvez pela insistência em tudo pautar por produtos nacionais, geralmente de excelência não reconhecida internacionalmente. Ou talvez fosse pela liturgia solene e com exclusão, pois, de elementos não litúrgicos e não solenes. Nem sequer uma leitura do livro de Saint-Exupéry. Na dita “pirosice” não coube o puro espetáculo, de exaltação do ego, um pouco como hoje se normaliza um pouco por todas as cerimónias matrimoniais, sob o consentimento clerical. Como se os espetáculos de puro entretenimento, de conteúdo vazios, plenos da ostentação, a que se acostumaram e que, por sua vez, replicam nos seus meios mediáticos, ditos sociais, é que fossem a coisa genuína, válida e significante, e nunca uma macaqueação acrítica de outros referentes, talvez ancestrais, identitários, que hoje tanto deploram, não compreendem.

Não suportam porque não compreendem, e, no fundo, na verdade, tão disfarçadamente odeiam porque invejam e quem inveja odeia sempre invejar e, por tanto odiar, mais a si mesmos odeiam do que aquilo que realmente odeiam fingindo não odiar.

Considero que a transmissão mediática das cerimónias do Casamento da Infanta Maria Francisca de Portugal, embora talvez se tenha alongado desnecessariamente durante o copo-de-água, num certo voyeurismo totalmente televisivo, constituiu um momento refrescante e um verdadeiro alguidar de água fresca no verdadeiro mofo e bafio de que padece o nosso contraditoriamente sombrio país. Ou seja, o mofo e o bafio de um regime que ainda venera tempos sinistros de rufias e bombistas, conspiradores, provocadores, fanáticos, extremistas, revolucionários, deturpadores, impostores, golpistas, seguidores de negras carbonárias e obscuras lojas, fechadas e ocultas, que são soturnos poderes de favorecimentos que resultaram em corrupção e crimes de colarinho branco como nunca se havia assistido em Portugal e que cimentaram um ideal socialista que consegue colocar esta desvirtuada nação na dianteira do aborto e da eutanásia mas não a consegue impulsionar para níveis de desenvolvimento económico e de bem-estar que vêm prometendo há muito mais do que um século.

Salutar! Foi especialmente pertinente e relevante. Uma verdadeira lufada de ar fresco sobre a poeira (ou pós ou demais substâncias e desideratos mentais.) do mundo televisivo e, finalmente, uma janela de realidade a um mundo viciado de imitações de realidade. Parabéns, portanto, ao canal de televisão que teve o desassombramento e ousadia de efetuar a quase épica transmissão de praticamente cinco horas em direto de tão chocantes celebrações. E é a minha opinião. Viva Portugal – o que comemorou 880 anos dois dias antes do dito Casamento Real.