Qual a relevância de, nos dias de hoje, pensarmos sobre a inovação e o desenvolvimento de negócios?

Valerá a pena ter em consideração e ganhar inspiração no modelo recentemente adotado pela Organização Mundial de Saúde para o desenvolvimento da vacina Covid-19, o qual, assentando no conhecimento acumulado, nos processos e plataformas previamente criadas, conseguiu a mobilização de recursos sem precedentes, a troca de informação e a colaboração nunca vista entre entidades públicas e privadas de todo o mundo, permitindo “comprimir” um processo com duração típica de 10 anos em 10 meses.

Na esteira do gigantesco impacto da pandemia, o mundo continuará a surpreender-nos com descontinuidades, imprevisibilidades e a confrontar-nos mais amíude com o surgimento de empresas e negócios disruptores.

A palavra disrupção vem sendo adotada como buzzword, verificando-se, contudo, que a mesma aparece muitas vezes associada em referência a pequenas melhorias e não, como deveria ser, ligada a verdadeiros desenvolvimentos, ou a “coisas” novas que tornam as anteriores obsoletas e que, efetivamente, induzem a alteração do comportamento de clientes, consumidores e/ou utilizadores.

Antecipa-se, porém, que exemplos como Netflix, Spotify, Tesla, SolarCity, Uber, Waze, Nespresso, Revolut, MBWay, Coursera, AirBNB e outros, que regularmente vêm sendo citados, irão continuar a surgir e a provocar disrupção e inovação em diferentes mercados e indústrias.

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Nos negócios de empresas para empresas (B2B), além dos modelos disruptores, quando um concorrente descobre uma nova forma de aportar valor ao mercado que a empresa não consiga replicar ou suplantar, não são a marca, nem a empatia ou a qualificação da sua força de vendas que vão evitar a ameaça em causa. Perante este cenário, a empresa não poderá mais continuar a fundamentar as suas expetativas de crescimento num leque de iniciativas tradicionais e é chegada a altura de mudar de práticas, nomeadamente, com a introdução de metodologias agile, para melhor capacidade de resposta à mudança.

Atendendo ainda às significativas alterações de comportamento que o confinamento veio inculcar em clientes e consumidores, reconhecer-se-á, então, ser este um contexto relevante e bastante oportuno para as empresas portuguesas se focarem em inovar. Dito de maneira mais direta: este é provavelmente o melhor tempo para as boas ideias.

Fazendo referência a Warren Berger (A Arte de Fazer Perguntas, 2020), as boas ideias nascem de perguntas ambiciosas, são o catalizador da mudança e vêm expandir as perspetivas existentes sobre o produto, o serviço, a experiência do cliente (CX) ou sobre os processos inerentes ao modelo de negócio proporcionado por uma empresa aos seus clientes. E, independentemente da metodologia adotada, na perspetiva do crescimento rentável e sustentado da empresa, o que se considera fator determinante é que a abordagem estratégica seja centrada nos clientes e consumidores.

Para uma mais resiliente vantagem competitiva e um sustentado crescimento da empresa, o primórdio da geração de valor para os acionistas deverá ser ponderado com o objetivo de satisfazer as necessidades dos clientes em antecipação e melhor do que a concorrência o possa fazer.

O desafio de antecipadamente perceber as necessidades dos segmentos de clientes mais relevantes, a geração de bons insights e a minimização dos riscos tecnológico e comercial, bem como os processos para testar e implementar os desenvolvimentos conseguidos, exigem novas competências, experiência e métodos (qualitativos e quantitativos).

Para além de soluções incrementais, feitas à custa de melhorias graduais e contínuas nos produtos, serviços e CX disponibilizados, mas com impacto modesto nos mercados e na tecnologia introduzida, será importante as empresas terem claro, que deverão agora focar-se em desenhar estratégias para a implementação de processos que facilitem a introdução ao uso ou a aplicação de “coisas” novas, ou seja, já inventadas. Assim, para inovarem, ao contrário de se preocuparem em inventar, as empresas deverão enfatizar o foco na descoberta de boas ideias e na mais ágil implementação das mesmas.

Os disruptores de negócios caracterizam-se por induzirem significativas alterações no comportamento de clientes e/ou consumidores e, consoante o impacto no mercado e a novidade tecnológica associada, podem dividir-se em três padrões:

  • O dos que conseguem desenvolvimento de negócio e vantagem competitiva através da melhoria do produto/serviço, por exemplo, à custa de cortar custos de forma substancial;
  • Um outro padrão, dos que introduzem radicais transformações da experiência de cliente (CX), na maioria das vezes suportadas em avanços tecnológicos;
  • e um terceiro padrão, dos novos modelos de negócio que introduzem verdadeiramente a disrupção por provocarem maior impacto, por se anteciparem às questões regulatórias, por alterarem as regras dos mercados e até as fontes de receita das indústrias em que intervêm.

Matriz de inovação (adaptação de artigos HBR)

Optando por empreender na inovação de soluções, as empresas adotarão uma perspetiva de fora para dentro e irão desenvolver uma abordagem centrada no uso, ou no utilizador. Neste desígnio, a pergunta relevante é: como…? O capital criativo da empresa e o talento das equipas envolvidas são a chave mestra para a solução dos problemas identificados, adotando metodologias tais como: a ideação (design thinking), o radar da inovação e sprints de inovação.

Se, por outro lado, o foco for na inovação com propósito, todos os esforços deverão ser desenvolvidos na busca de maior significado e as empresas adotarão uma perspetiva de dentro para fora. Neste outro desígnio, a pergunta relevante é: porquê…? Neste esforço, o principal objetivo centra-se na análise do mercado e das necessidades dos clientes, procurando o desenvolvimento de um novo conceito de produto ou serviço, diferenciado de tudo o que já existe e trabalhado a partir do talento da organização. Focada no propósito, a inovação será alinhada com a utilidade, com o preço e com o custo, e adotar-se-ão metodologias como brainstorming, a inovação disruptiva e o design de toda a proposta de valor, seguindo uma estratégia “Blue Ocean”. Nesta abordagem, as empresas procurarão formas de criar valor e como fazer com que o consumidor queira pagar pela inovação, mediante a introdução no mercado de um novo conceito oferecido de forma única.

A liderar no cenário pós-crise conseguimos imaginar aquelas empresas focadas no que realmente importa, o cliente, que crescem e conseguem a diferenciação nos mercados em que atuam, pela abordagem estratégica na inovação das suas propostas de valor e no desenvolvimento de negócios. São organizações feitas de equipas coesas, alinhadas no propósito e em visões claras, que na resposta à mudança arriscam, através de processos iterativos e colaborativos, envolvendo clientes e consumidores, e que vivem sobejamente empenhadas na implementação dos mais consistentes planos de curto e médio prazo, para a sustentabilidade dos negócios.

Os líderes dessas empresas instilam confiança, são resilientes e adaptáveis à indispensável transformação, não se distraem a disparar “ideias supostamente fantásticas” em todas as direções, nem tão-pouco a enviar muitos emails internos, mas focam-se nas questões relevantes relacionadas com a geração de valor: vendas, margem e potencial de crescimento.

As empresas e as indústrias portuguesas que consigam aliar-se e constituir-se em plataformas de interdisciplinaridade, interdependência e interespaços muito poderão aprender e ganhar.

Vamos pensar na forma de agarrar este desafio e gerar boas ideias nas nossas empresas?