Cavaco Silva desafiou António Costa a fazer mais e melhor do que ele. Mas António Costa só quer fazer mais e pior do que (o agora aldrabão) José Sócrates. Em vez de resolver a falta de competitividade do mercado português (essencial para o crescimento económico e que é sistematicamente impedida pelas políticas fiscais socialistas), António Costa prefere concentrar-se na feroz competição a José Sócrates. Este é o problema de Portugal. O que conta é o(s) legado(s) que se deixa.

António Costa e José Sócrates compartilham um passado comum. Ambos foram líderes do partido socialista, ambos conseguiram maiorias absolutas e ambos exemplificam o ópio dos socialistas, a vitimização. Obviamente, partilham muito mais. A falta de sinceridade a pedir desculpas também é algo em comum. “Se quer ouvir-me pedir desculpas, eu peço desculpas”, disse, muito a custo, António Costa depois dos fatídicos incêndios de 2017. Tinha vontade para o fazer? Não! Por sua vez, José Sócrates, quando aumentou os impostos em virtude da sua gestão desastrosa, não pediu desculpa por “cumprir o seu dever” e acrescentou que não hesitaria “em manter as medidas de austeridade até 2013 se for preciso”.

Se acreditavam que o autor da austeridade foi Passos Coelho enganaram-se redondamente. José Sócrates, o socialista da Troika também é o pai da austeridade. Naturalmente, António Costa não podia ficar atrás e lá vieram as cativações. Veremos o que o futuro trará ao pai das cativações. Para já, com a coisa socialista de António Costa, o caos só tem aumentado.

As bandeiras eleitorais socialistas de 2019, eram as mesmas de 2009. Ambos contribuíram para a partidarização da Administração Pública. Sócrates queria combater a corrupção, Costa também; Sócrates prometeu não aumentar a carga fiscal, Costa também; Sócrates tinha o TGV, Costa tem a ferrovia; Sócrates tinha a austeridade dos PEC, Costa tem as cativações; Sócrates queria um aeroporto, Costa também (com 5 metros de elevação); Sócrates tinha o Simplex, Costa tem um novo Simplex; Ambos tiveram uma jornalista de eleição, pedincharam de mão estendida à UE, mentem e mentiram, e só se preocupam com a imagem. Por fim, a hipocrisia do “combate contra a abstenção”. Mas alguma vez, quer José Sócrates, quer António Costa, apresentaram medidas para alterar o corporativismo partidário?

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Antes de vermos as diferenças, uma pequena nota relativa aos apoios. O caciquismo, para além de implicar o fim da pluralidade, exige obediência cega. Usualmente os líderes socialistas, particularmente os que têm aura de salvador, são eleitos por aclamação. Por que razão? Porque são infalíveis. Os socialistas nunca se enganam. Já não há deuses no Olimpo. Mas Olisipo (Olissipo, Ulisippo, Olisipona, etc.) está repleta de divindades socialistas.

Note-se que este tipo de apoiante fervoroso de António Costa é o mesmo que apoiou incondicionalmente José Sócrates, esse mítico novo homem político, protótipo do herói socialista moderno, que perante o abismo não hesitou em afundar-nos. Os socialistas que apoiaram entusiasticamente as medidas de austeridade de José Sócrates são os mesmos que criticaram Passos Coelho. Algum socialista rasgou as vestes em angústia pela gestão danosa do Sócrates? Algum socialista pediu desculpa pela bancarrota que nos trouxe a Troika? José Vieira da Silva, Augusto Santos Silva e António Costa, que eram membros do governo que afundou Portugal, não o fizeram. Nem o farão.

Vistas algumas semelhanças, vamos às diferenças Esta parte é mais simples e paradoxalmente a distinção está na atribuição da culpa. Se há ponto onde António Costa suplantou José Sócrates, ei-lo. Sim. Costa cobra mais impostos, gasta mais dinheiro do que Sócrates e continuamos sem saber para onde vai o dinheiro. Isso não é novidade. A governação socialista é uma moratória da qual, inevitavelmente, emerge uma bancarrota. Mas, para António Costa, a atribuição de culpas é o corolário da competição entre os dois.

Há alguma convergência na atribuição da culpa e nos isentos de qualquer responsabilidade. Estes últimos são os próprios (who else?). Sócrates e Costa não têm culpa de nada. Já os culpados são a União Europeia (que só serve para criticar enquanto se pedincha, não fosse o Estado português um pedinte) e a oposição. E é aqui que António Costa se transcende e coloca José Sócrates num canto. Para além de Passos Coelho, o seu némesis, cuja seriedade Costa é incapaz de igualar, tudo e mais qualquer coisa é objecto de atribuição de culpas por António Costa. Sejam os profissionais de saúde, os privados, a pandemia, a guerra, as sanções e, especialmente, os portugueses, seja lá o que for incluindo o dia de amanhã, são culpados.

Inicialmente o problema eram os profissionais. Mas agora o SNS seria perfeito sem os portugueses que devem ver o automóvel como um corpo estranho. É o chamado dois em um costiniano: Portugueses, fiquem em casa e andem a pé. Cuidarão mais da saúde e pouparão dinheiro em combustíveis. Para além disso, as filas de espera diminuirão, as urgências não terão tanta pressão e os transportes públicos beneficiarão da redução de custos. Também aqui Costa foi mais longe do que Sócrates. Um dos lemas do Estado Novo era o “orgulhosamente sós”. António Costa adoptou o “orgulhosamente em casa” e o “orgulhosamente a pé”. Já agora, quantos motoristas tem o Primeiro-ministro? E carros eléctricos?

Repito. A única preocupação de António Costa é mostrar a José Sócrates que consegue ir mais longe do que ele foi e “fazer melhor” do que ele fez. Infelizmente para nós, ir mais longe e fazer melhor do que Sócrates significa o pior possível. E será na desgraça que acabaremos.

Os sinais, que já eram visíveis, estão a ser potenciados pela maioria.

A falência do Estado Social aguarda-nos ao virar da esquina. José Sócrates fê-lo pelo colapso financeiro. António Costa optou pela decadência operacional dos serviços. Vejam o que se passa com os hospitais, com os incêndios, com as Forças Armadas, a PSP e GNR, etc. Mas isto será apenas o princípio.