Quais Jogos sem Fronteiras, qual Gymnaestrada. Isto da Jornada Mundial da Juventude, sim, é um mega-evento. Sem desprimor para o programa de televisão criado por Guy Lux, Pierre Brive, Claude Savarit e Jean-Louis Marest (quem não sabe estes nomes de cor), e muito menos para aquele que é, só, o maior evento de ginástica não competitiva do mundo. E o que eu aprecio ginástica não competitiva do mundo. Respeito para com os Jogos sem Fronteiras e a Gymnastrada, como é óbvio.

Só que a Jornada Mundial da Juventude revelou-se um caso à parte. Eu não conhecia o evento, admito, mas estou muito surpreendido. Desde logo porque estou habituado a que, quando se fala numa jornada importantíssima, os adeptos mais fiéis que se deslocam ao evento sejam conduzidos por agentes policiais fortemente armados, dentro de um área a que convencionou chamar-se “caixa de segurança”.

A verdade é que os inúmeros e fidelíssimos adeptos que marcam presença na Jornada Mundial da Juventude caminham fora de caixa, quer em sentido literal, quer em sentido figurado. O que é deveras surpreendente, uma vez que estes fiéis são, eles sim, um rebanho, mas ao mesmo tempo não precisam de ser conduzidos como se de animais se tratassem.

O que me leva a concluir que o único evento capaz de pedir meças a uma Jornada Mundial da Juventude é mesmo um Campeonato do Mundo de Futebol. Ainda assim, para que os certames fossem comparáveis seria obrigatório que cada um dos países em competição no Mundial de Futebol se fizesse apoiar por uma claque composta, exclusivamente, à base de adeptos choninhas.

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Neste momento entendo que uma pessoa fique sem reacção perante a magnitude da Jornada Mundial da Juventude. É realmente impressionante. Principalmente para quem viva perto do centro de Lisboa. É incrível como é quase impossível ir para onde quer que seja. A Jornada arranca, um indivíduo acredita que vai continuar a fazer a sua vida, mas não. Fica totalmente imóvel, sem reacção, e sem se conseguir mexer para lado nenhum à conta das limitações de trânsito impostas pela Jornada Mundial da Juventude.

Juventude, cujo entusiasmo não cessa de me espantar. Mas será que ninguém escutou as recentes declarações do secretário-geral da ONU, António Guterres, segundo as quais “acabou a era do aquecimento global e começou a da ebulição global”? Ninguém tomou boa nota que é desta (à 137ª previsão) que vem aí o fim do mundo? E nem sequer é o fim do mundo em cuecas, que pelos vistos o braseiro recomendará indumentária ainda mais ligeira. Vem aí o apocalipse e tudo rejubila? Não faz sentido. Até porque a verdade é que assim que Guterres anunciou a era da ebulição, tumba!, torrou-me logo a paciência. É desta que António Zandinguterres acerta na hecatombe!

Por outro lado, e pensando mais friamente (deixem-me aproveitar os últimos segundos mesmo antes da ebulição), o Papa era menino para ter sido informado, lá por algum superior dele, ou assim, se o mundo estivesse para acabar, não? Desconfio que sim. E não me cheira que se o Papa Francisco soubesse que o mundo ia acabar, escolhesse fazer o seu último discurso no palco que o artista Bordalo II decorou com aquela passadeira feita com imagens de notas de 500 euros.

Se bem que agora que penso nisso, e depois das notícias dos quase 30 contratos públicos por ajuste directo de que o Bordalo II beneficiou nos últimos anos, não só as orelhas do artista estão a arder, como imagino que o seu cartão de crédito esteja todo assado de tanto passar em terminais de pagamento bancário. Ou seja, temos o “arder”, que significa “estar muito quente”, e temos o “assado”, que denuncia “inflamação causada pelo calor”. Tudo indícios fortíssimos de termos entrado, de facto, na era da ebulição. Afinal, quem tinha razão, quem era? Era António Derretes.