Tenho mesmo de começar a ver mais televisão. Se não depois sou apanhado de surpresa por estas coisas. Então não é que, de repente, não há não-especialistas em política argentina em Portugal. Malta que no dia anterior à eleição de Javier Milei sabia, acerca da Argentina, que era campeã do mundo de futebol, hoje acha-se, ela própria, campeã do mundo em qualquer quiz sobre a política no país das pampas. É gente que conhece melhor o caminho que a Argentina seguirá com Milei do que o caminho do seu próprio quarto até a sanita.

Sendo que de uma metafórica sanita é de onde a Argentina não sai vai para uma data de tempo. Lá está, se também eu fosse um destes novos especialistas em Argentina saberia precisar há quanto tempo a miséria alastra por aquelas paragens. Agora, a histeria da esquerda por causa da vitória de Milei é sintomática. O país está na mais absoluta desgraça, com 40% de pobres. Vem um novo presidente que ameaça fazer tudo de forma diferente. E a esquerda indigna-se violentamente. Contra quê? Contra o perigo de a coisa não correr assim tão mal, a vida melhorar, as pessoas tornarem-se menos dependentes do estado e, logo, menos propensas a serem futuros clientes da propaganda socialista.

Mas nem só de “fascistas” argentinos se fizeram os últimos dias. Por cá, os “fascistas” do Chega foram corridos da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa por um vasto grupo de jovens fascistas, estudantes daquela instituição. Os jovens fascistas não apreciaram a ida do Chega à faculdade para falar do clima e choveram insultos de, lá está, fascista. Claro que, além disso, os estudantes também argumentarem que… E fundamentaram o seu ponto de vista segundo o qual… Além de terem sido muito assertivos quanto ao… Hum… A verdade é que o poder mental combinado daquelas dezenas de estudantes universitários não foi capaz de produzir 1 (um) argumento contra a presença do Chega no local. Afinal, trata-se da geração mais bem preparada de sempre para não conseguir preparar um raciocínio que seja para um debate de ideias.

O que não é motivo para desespero, atenção. Porque todo o trabalho é digno e haverá sempre um posto num qualquer drive thru à espera destes estudantes da FCSH. E quem diz uma função no sector da fast food diz o cargo de secretário-geral da ONU. Que, como António Guterres não se cansa de demonstrar, requer zero competência. Embora seja muito rigoroso em termos de falta de escrúpulos, e extremamente exigente ao nível da inépcia matemática. Porque se conhecíamos, há muito, a dificuldade de Guterres com as contas, agora descobrimos que o problema vai mais fundo. O secretário-geral da ONU não sabe sequer contar. Só assim se explica ter dito que o conflito em Gaza é um “assassínio de civis sem paralelo e sem precedente em nenhum conflito” desde que ele é secretário-geral, quando, com números muito superiores de vítimas civis, há os conflitos na Ucrânia, na Etiópia, na Síria, no Iémen, no Afeganistão, no Darfur, no Iraque e no Congo. Mas enfim, talvez seja má vontade minha. Pelo que contei também é só um, ou dois casos.

Bem mais do que um, dois, ou cento e setenta e nove casos são quantos podemos esperar entre António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa até às eleições de 11 de Março. Quatro mesinhos de tricas. Mais de um trimestre de rasteiras. Quase meio ano de toda a sorte de trocas de galhardetes parvas. Hã, quem são os sortudos? Somos todos nós, pois claro. É tanta a roupa suja para lavar que, para assistir a isto, nem sei se vá buscar pipocas, ou antes o Skip cápsulas.

A coisa começou bem. Foi a confusão sobre a chamada da procuradora-geral da República a Belém; foi a trafulhice do convite a Centeno para primeiro-ministro; foram as trocas de piropos sobre faltas de bom senso. Enfim, vamos andar até à primavera a assistir a uma espécie de combate de UFC em que o “U” é de “Uma”, o F é de “Fantochada” e o “C” é de “Contínua”. E sim, também me ocorreu que se antes do “C” houvesse um discreto “do”, o “C” podia ser de algo ligeiramente mais gráfico. Só que isto é uma crónica de família.

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