A Hipertensão arterial (HTA) é o principal fator de risco para Acidente Vascular Cerebral (AVC), principal causa de morte no nosso país e responsável por elevada morbilidade associada, estando também associada, entre outras patologias, à ocorrência de Enfarte Agudo do Miocárdio, Insuficiência Cardíaca e Doença Renal Crónica. Além do recurso ao Serviço de Urgência por elevação aguda do perfil tensional, todas as patologias enumeradas são causa de entrada frequente no hospital através de urgência, sendo igualmente dos diagnósticos mais frequentes em regime de internamento médico, muitas vezes associados a internamento prolongado para ingresso na Rede Nacional de Cuidados Continuados.

Em termos científicos, e apesar de não termos novas armas terapêuticas, a HTA continua a ser uma problemática presente e sobre a qual precisamos de refletir. Será pela não adesão, a inércia médica, a sobrecarga de trabalho, que não melhoramos a principal causa de mortalidade e morbilidade geral? Por outro lado, sabemos que precisamos de melhorar o Team based care dos nossos doentes, ou seja, termos vários profissionais, de diferentes áreas, sensibilizados e focados nesta problemática da HTA. Na população em geral (desde os três anos de idade) é preciso medir a pressão arterial para saber se está elevada e, no caso afirmativo, confirmar com várias medições em ambulatório, tratar farmacologicamente se indicado, e ainda tratar não farmacologicamente. O doente hipertenso deve estar motivado para hábitos de vida saudáveis, ter uma alimentação equilibrada com baixa ingestão salina, fazer mais exercício físico e não consumir tabaco e álcool. No doente medicado, é importante o cumprimento terapêutico de forma a evitar os riscos de uma HTA não controlada, cujas consequências levam a grandes incapacidades.

Nesse sentido surge a Missão 70/26, uma iniciativa da Sociedade Portuguesa de Hipertensão (SPH), com apoio da Servier, na qual elaboramos um programa estratégico multifacetado que permita controlar 70% dos hipertensos vigiados nos cuidados de saúde primários em Portugal até 2026, sabendo que neste momento esse valor anda nos 53%. Muitos poderão considerar um alvo muito ambicioso, mas é preciso refletir, agir e mudar, pois o panorama atual de HTA não controlados e ocorrências de AVC em Portugal não é aceitável e precisa de ser melhorado. Este projeto contempla um conjunto de iniciativas a implementar durante um período de 4 anos, que envolverá nomeadamente a realização de formação, eventos científicos, campanhas de Awareness e outras iniciativas melhorando a literacia em Saúde na área da HTA.

A SPH já está a agir e já iniciámos um conjunto de ações formativas destinadas a doentes e profissionais de saúde, dispersos por vários pontos do país e continuamos a ter uma atividade muito intensa neste papel formativo. A população de Castelo Branco já sentiu a nossa presença, com várias atividades presenciais no Dia Mundial da HTA, quer para profissionais, quer para população. Criámos uma webapp (https://www.missao7026.pt/) onde os profissionais de saúde que pretendem colaborar nesta missão se podem inscrever, cujo número de inscritos tem vindo a subir exponencialmente, contando já com perto de 6000 inscritos. Criámos e temos enviado teaching letters, boletins informativos de variados temas para os inscritos, com informação pertinente nesta área da HTA e risco cardiovascular global, pois o doente hipertenso tem outros fatores de risco, outras patologias que, somadas, aumentam o risco de desenvolver outras complicações. Nesta iniciativa já contamos com alguns parceiros, nomeadamente sociedades científicas, ordens profissionais, centros formativos e variadas empresas com algum papel direto ou indireto no seguimento do doente hipertenso. Já assinámos o primeiro protocolo de colaboração com o Centro Académico Clínico das Beiras, e mais virão.

Foi criado um Prémio Missão 70/26: 1ª Edição – Adesão na Hipertensão, uma bolsa monetária para profissionais de saúde que desenvolvam alguma atividade relevante nesta área da melhoria da adesão à terapêutica e do controlo de HTA. Pretendemos, por um lado, sensibilizar todos os profissionais envolvidos no acompanhamento do doente hipertenso, e por outro, estimular o trabalho em equipa entre os mesmos, pois podem candidatar-se ao prémio profissionais de saúde não médicos, desde que pelo menos um médico esteja no grupo de trabalho. Nas doenças crónicas, o trabalho de equipa é fundamental para manter um bom controlo da doença. As candidaturas decorrem de 28 de agosto a 30 de novembro de 2023, através de formulário próprio no Website http://adesao.missao7026.pt/, e devem ser apresentadas em nome pessoal, não sendo admitidos como candidatos, pessoas coletivas. Os vencedores serão anunciados em sessão solene durante o XVIII Congresso de Hipertensão e Risco Cardiovascular, em fevereiro de 2024. Veja o regulamento e mais informação aqui https://www.missao7026.pt/.

Com esta iniciativa do prémio e da missão 70/26, a SPH pretende melhorar o flagelo da HTA no nosso país. Sabemos que a sobrecarga do sistema de saúde vai refletir-se em menos qualidade no seguimento dos doentes hipertensos, pois haverá maior inércia da parte dos profissionais e menor disponibilidade para os doentes. É aqui que entra o papel da SPH, por um lado no seu papel de Sociedade científica, mantendo os profissionais de saúde motivados com iniciativas nesse sentido, e por outro lado como Liga, envolvendo toda comunidade na responsabilidade de cuidar da sua própria saúde.

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