Estávamos na era do XIX Governo Constitucional e com o argumento de que era necessário cortar, permitimos que se destruísse uma das melhores marcas do Estado naquilo que era a sua atuação nas políticas públicas de juventude: o Instituto Português da Juventude.

Na verdade, esta opção política, que considero mesmo uma questão ideológica e transversal a vários governos e partidos, ganhou força no último governo do PSD-Partido Social Democrata, com a fusão do Instituto do Desporto de Portugal e do Instituto Português da Juventude.

Foram necessários poucos anos para se perceber aquilo que muitos dos intervenientes do setor já percebiam em 2011, mas que o governo da época não quis perceber: a fusão de dois organismos tão distintos era desprovida de argumentos válidos e serviu para tudo, menos para a poupança de recursos que o governo de então apregoava. Serviu acima de tudo para cobrir a imagem limpa e transparente do setor da Juventude com as nuvens cinzentas do desporto. Mas essa reflexão ficará para outro momento.

O setor da Juventude perdeu força enquanto área programática dentro dos vários governos que se seguiram, não há dúvidas sobre isso. O “novo” IPDJ-Instituto Português do Desporto e Juventude foi perdendo cada vez mais capital humano, traduzindo-se hoje numa casa envelhecida, com excelentes quadros, mas que carece urgentemente de mais pessoas, mais técnicos, mais meios e mais vida. E a cereja no topo do bolo, que foi a lei orgânica do IPDJ e que trouxe consigo apenas um diretor por região, numa decisão demagógica e numa tentativa de mostrar ao país que era com o corte de direções intermédias no estado que se poupava e combatia a crise de então. Ou seja, hoje, temos diretores regionais, como do Norte e do Centro, que têm 5 e 6 distritos na sua área de jurisdição, cada distrito com serviços e funcionários para liderar e manter diariamente. No caso da Região Centro, nem sequer é possível estar um dia por semana de trabalho em cada distrito.

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Mas nem tudo foi ou é mau. O IPDJ continua a ser o impulso mais importante e fundamental para o associativismo juvenil, com diversos e abrangentes programas de apoio.

Ninguém é hoje capaz de argumentar politicamente e com fundamento a favor da junção da tutela destas duas áreas. Juventude não é desporto e desporto não é juventude. E nem sequer existe um princípio que nos indique que elas devem estar associadas. Deixa transparecer até que quem no momento decidiu, teve aquele pensamento básico e carente de conceito, do tipo: “O desporto é para os mais novos, portanto a juventude fica com o desporto”. Não teve sentido, continua a não ter lógica, e os governos que se seguiram, incluindo o atual, não tiverem a coragem de reverter esta decisão, continuando a cavar um buraco cada vez mais difícil de tapar no futuro (e que terá que ter outro tipo de solução).

Urge por isso visão e programa de futuro para o setor da Juventude no Estado.

Primeiro é necessário começar por investir na “casa”, nos vários serviços do IPDJ e nas pessoas que os integram. Depois é necessário bom senso nas nomeações/concursos para os organismos que tutelam a Juventude, valorizando mais a experiência do que o percurso nas juventudes partidárias (não o desvalorizo, pelo contrário, mas não pode nem deve estar primeiro que tudo). A lei orgânica do IPDJ deve ainda possibilitar um Diretor Regional Adjunto, garantindo melhor eficiência e resultados nas direções regionais.

O IPDJ deve focar a próxima década na reaproximação aos jovens e às associações juvenis, com formas de comunicação melhoradas e inovadores, iniciativas que realmente interessam aos jovens no momento certo e transformar os serviços descentralizados em verdadeiros centros de cidadania e dinâmica. Porque os jovens e as associações continuam a precisar de espaços de partilha, desde que estes correspondam às suas necessidades atuais.

Não sou daqueles que entende que para se ser um bom ministro da Saúde é necessário ser-se médico, da mesma forma que não julgo que para se ser um bom Secretário de Estado da Juventude é necessário ter sido dirigente associativo juvenil. Agora, que é preciso perceber da poda é! Que são necessários mais técnicos nos gabinetes governamentais com experiência nesta área? São! Que saber distinguir uma associação juvenil de uma associação de estudantes, de uma juventude partidária, ou mesmo de um clube desportivo, é essencial e deve ser exigido a quem legisla ou executa políticas públicas de juventude? É! Tudo isto, claro, se aquilo que ambicionamos forem verdadeiras políticas públicas de juventude.

Termino, assinalando penálti contra a tutela conjunta da Juventude e do Desporto, que atira para fora de jogo os jovens e o movimento associativo juvenil!