Cada vez mais se vê a presença jovem a comentar política na televisão. Nomes como Sebastião Bugalho, João Maria Jonet e Gaspar Macedo surgem em horário de honra e o respeito dos demais comentadores, com mais experiência, ainda que nem sempre sentido, vai-se verificando. Essa é uma esperança que é dada à minha geração, pois abre um espetro de importância onde o jovem consegue inserir-se. Mas a que custo?

Existem vários dilemas que surgem quando um jovem quer iniciar a sua carreira na política. Um deles é a forma como se constrói o discurso, fazendo um equilíbrio entre a facilidade de comunicar com a população e ao mesmo tempo adaptar-se ao tema abordado. Verifica-se nesses comentadores que, confrontados com perguntas feitas pelos jornalistas, o uso da palavra ‘cara’ eleva-os linguisticamente, mas enquanto jovem não me identifico. Quando se pede a um jovem que escreva um discurso, naturalmente sairá com uma linguagem simples e, mesmo que um pouco mais refinada, atual para os tempos que correm. Levanta-se uma questão. Será que o jovem tem de treinar e modificar a sua oratória de forma a facilitar a integração no meio político atual, ou pode utilizar uma linguagem simples e adaptada aos tempos modernos, conseguindo mesmo assim entrar na política? Enquanto jovem nessa situação, não consigo deixar de defender esta última posição. Uma pessoa, seja em que indústria for, deve adaptar-se aos tempos em que vive, sem nunca se descolar demasiado da realidade onde se quer inserir, para não correr o risco de se desvirtuar da sua essência.

A presença em ‘jotas’ pode ajudar na integração jovem na política, onde em reuniões e convívios (e mesmo em alguns discursos) é utilizada uma linguagem menos formal, sem nunca fugir aos temas ou muito menos desprezando-os. Mais tarde, quando se junta à estrutura do partido, o jovem tem bagagem política e ideias para se conseguir adaptar, mas tem de profissionalizar a sua oratória de forma a ser ouvido.

O desprezo que se sente muitas vezes por parte de adultos mais formados, ou simplesmente com mais experiência de vida, associando a infantilidade da idade, leva a que muitos destes desistam de tentar fazer algo diferente na sociedade. Apenas alguns superam isso, e continuam no seu registo. Outros tantos adaptam-se ao “mundo dos mais velhos” e o discurso parece completamente desfasado da sua geração.

As redes sociais estão a contribuir para se desmitificar um pouco essa ideia, dando espaço a que cidadãos comuns deem a sua opinião de forma livre e honesta. Mas aparentemente dar um salto um pouco maior, para outras indústrias com diferentes exposições, não está ao alcance de quem o sonha. Se analisarmos exemplos de presenças na televisão e nas redes sociais, há um grande contraste observado. Não nas ideias, mas sim no discurso. Não condeno, é um facto que estando em início de carreira tem de ganhar terreno mediático e entre os colegas. Mas será que está certo? Será que não haveria maior espaço mediático jovem, para jovens, com a tal linguagem acessível?

O desinteresse na política por parte da população, mas com foco nos mais novos, poderia ser combatido com esta adaptação aos tempos modernos e uma aproximação mediática da classe política. Para isso, apoiar criadores de conteúdo que fomentem essa criatividade parece-me importante, dando-lhes liberdade para o fazerem. Para lá caminharemos, espero.

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