2Cada vez mais, definir está a entrar em desuso. E usando uma expressão de Oscar Wilde de que eu particularmente gosto, a partir do momento em que definimos, limitamos. E não é isso que queremos: limitar. Tenho vindo a refletir sobre os conteúdos que consumo e o que são os media para a geração em que me insiro, a Geração Z, apesar de ter a certeza de que tenho traços de millenial. Na minha opinião, não existe uma conceção fechada do que os media representam. O dicionário diz-nos, mas limita o seu poder numa frase. Vou tentar explicar o que é à minha maneira.

Em primeiro lugar, é importante enquadrar historicamente, de forma a perceber as origens primordiais e tentar construir um conceito, da mesma forma que as gerações são (in)definidas paralelamente à época em que vivem. As escrituras em pedra, o passa-palavra, sinais de fumo, entre outras estratégias mais rudimentares, eram formas de comunicação usadas e impactavam comunidades. Com o passar do tempo, as pessoas mudaram, adaptaram-se e consequentemente a sociedade acompanhou a nossa existência de forma próxima, complexa, atenta. O ser humano evoluiu e os media também. Podemos arredondar para uma época mais fechada, mas não iremos mais longe: século XV, Europa. O início do consumo de papel em massa deveu-se à invenção de Johannes Gutenberg: a imprensa. Até hoje. Os media estão massificados e temos toda a informação com uma pesquisa no Google.

Em segundo lugar, temos de perceber as dinâmicas atuais e o seu impacto. Esta evolução histórica é fascinante uma vez que não há desculpas para não entender sobre determinado assunto. A transformação digital democratizou o acesso a conteúdos, e, consequentemente, temos uma sociedade mais bem informada e entretida. Por outro lado, é assustador; somos diariamente bombardeados em todos os formatos e plataformas com algoritmos à prova de bala e a nossa capacidade de filtragem é posta à prova. A velocidade e a diversidade de criação e lançamento de conteúdo é astronómica, e estando imersos em redes sociais torna-se difícil distinguir conteúdo genuíno, noticioso, de entretenimento. A perceção daquilo que lemos é inconsciente, não nos apercebemos da quantidade de informação que consumimos, o que nos pode deixar desorientados. É uma realidade ilimitada e isto faz com que a maior parte das entidades seja obrigada a impactar uma geração em 8 segundos. É, também, alarmante na medida em que o avanço digital foi potenciador do consumo rápido, e sem canais tecnológicos não respondemos às nossas necessidades atuais e não construimos futuro. Para mim, é um desafio e só é possível com espírito crítico para tirar conclusões verdadeiras, fidedignas. E a Geração Z é caracterizada por falar a sua verdade.

Em terceiro lugar, questionamos o que lemos para trás. A Geração Z encerra o seu consumo de media no digital? Errado. Apesar de sermos digital-first, temos um carinho pelo sentimento nostálgico e gostamos do analógico. Não é por acaso que há cada vez mais procura por câmaras de filme, discos de vinil, revistas, entre outros. Desenganem-se aqueles que acham que print is dead.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Em último lugar, em que ficamos? Continuamos sem definição. Os media vão continuar a servir o seu propósito: informar e entreter. A tecnologia difundir-se-á ainda mais no espetro mediático, maximizando e captando valor em suportes analógicos como criação de experiências de realidade aumentada e virtual. O metaverso será um espaço de criação e teremos, num futuro próximo, revistas virtuais vivas. E a Geração Z será a primeira a experimentar. O mundo de possibilidades é ilimitado e em Portugal já vemos os primeiros passos. Por exemplo, a Vogue Portugal já tem uma plataforma de realidade aumentada onde é possível ver para além da capa estática da revista.

Cabe ao ser humano aceitar a transformação, ser crítico e fazer parte da história que se escreve todos os dias nos media, na tecnologia, como na vida. Como os históricos de media, Asa Briggs e Peter Burke reforçam, cada invenção crucial veio com “uma mudança de perspetivas históricas“. Que estas mudanças se perpetuem no tempo, sempre. Limitar o que somos capazes de fazer? Nunca.

Catarina João Vieira é editora-chefe blue velvet editorials e Digital Marketing & Content Manager B2B na NOS SGPS.

O Observador associa-se à comunidade Portuguese Women in Tech para dar voz às mulheres que compõe o ecossistema tecnológico português. O artigo representa a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da comunidade.