Confesso: é um bocado confrangedor ter passado uma vida toda garantindo ao mundo que a direita é democrática, que não havia nenhuma razão para supor que a direita aprecia mais ditaduras que a esquerda (é lembrar os simpáticos regimes comunistas), que a direita não é racista, que a direita não era mais machista que a esquerda (vide o ódio misógino que ofereceram a Margaret Thatcher), que ser de direita não é equivalente a ser grunho que não gosta de teatro e que, se obrigado a assistir a um concerto na Gulbenkian, adormece e ronca.

Eu garantia tudo isto e muita gente me acompanhava. Infelizmente muita dessa gente, mal se viu com as boçalidades de Trump à frente, resolveu dar razão às acusações que a esquerda, maldosamente e sem seriedade tantas vezes, fazia. Afinal, sim, concordam: ser de direita é delirar de apoio a regimes e líderes musculados e autoritários, de Trump a Putin; é odiar o feminismo acima de tudo, chegando-se ao ridículo de termos uma mulher sem filhos a propor dar cabo da vida profissional das mulheres que têm filhos para as obrigar a irem para casa serem somente parideiras; é ser racista (e ao mesmo tempo cantar loas do colonizador benevolente que se deu tão bem com todas as raças, até nos miscigenámos e tudo – que a consistência argumentativa está sobrevalorizada). Ou, como li, afirmar que os estereótipos sobre raças têm razões estatísticas.

Ser de direita, afiançam-me, é ter raiva de qualquer novidade que mude o estado de coisas para os tradicionais marginalizados do poder e dos bons rendimentos. Nós odiamos mudanças, já aqui escrevi. Na política também pedimos os sais de cada vez que vimos novidades.

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