O vice-presidente da Comissão Europeia, Margaritis Schinas, de acordo com o que noticia o jornal POLITICO, quer muito que Taylor Swift apele ao voto jovem durante o seu tour pela Europa. Não fosse isto cómico, faria parte de uma peça de teatro de mau gosto reescrita com o mesmo material de 2016 e 2018, com a esperança ingénua de que agora será tudo diferente.

Aparentemente, os moderados nada aprenderam com as eleições de Donald Trump e Jair Bolsonaro. Continuam a insistir, achando que têm em mãos um comprimido milagroso e cool, que os famosos lhes vão ganhar eleições; que os famosos, tal como salvadores vindos de longe e portadores de uma influência divina, vão sustentar a democracia em seus ombros após cantarem a sua música mais ouvida no Spotify.

Em 2016, Donald Trump foi o candidato mais ridicularizado, vilipendiado, falado de sempre – ganhou a eleição. Em 2018, o mesmo se passou com Bolsonaro: ganhou a sua eleição. Já na altura, centenas de famosos conscientes da sua responsabilidade para com a sociedade civil que compra os seus bilhetes decidiram ser abertamente contra estes candidatos extremistas. Até aqui, excelente. Também gosto pouco de extremistas. O problema é que ainda existe quem acredite que estas pessoas, as celebridades, fazem ganhar eleições.

Naturalmente que todos os artistas e pessoas com presença mediática têm todo o direito de expressar as suas opiniões políticas – são, afinal, cidadãos com os mesmos direitos que todos. Contudo, usá-los como armas letais contra um extremismo que está impregnado em todas as redes sociais e chega em segundos a qualquer bolso que tenha um telemóvel parece ser pouco eficaz.

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Que tal – porventura isto seja uma ideia louca, inovadora, excessivamente otimista e por isso pouco credível – fazer uma campanha que se foque nos problemas das pessoas sem ter de usar milionários que poluem o ambiente com os seus jatos privados apenas porque querem chegar mesmo muito rápido do ponto A ao ponto B? Que tal, mostrar soluções para os problemas reais que o extremismo manipula e utiliza para ganhar votos? Que tal fazer política?

O apoio de celebridades deveria ser um acessório engraçado das campanhas e não um eixo central do processo democrático. Em vez de se desejar com muita força que a Taylor Swift apele ao voto, urge que se deseje com muita força que o cidadão comum trabalhador esteja disposto a ouvir as propostas sérias dos partidos do arco democrático.

Menos celebridades, mais atenção ao povo.