As escolas profissionais comemoram, este ano, trinta anos ao serviço da educação e formação e, enquanto Presidente da Direção da Associação Nacional de Escolas Profissionais, queria congratular-me com o extraordinário percurso que foi feito, desde 1989, em termos preparação escolar e profissional o que permitiu qualificar cerca de quatrocentos mil jovens.

Quando se sinalizam 30 anos de uma experiência pedagógica de grande qualidade gostaria de recordar Roberto Carneiro e Joaquim Azevedo por terem sido os grandes impulsionadores deste processo. Gostaria de felicitar os promotores e a comunidade educativa pelo valioso contributo que deram no que se refere à inovação pedagógica, ao respeito pelos diferentes ritmos de aprendizagem, à preocupação em integrar e apoiar todos os alunos, não deixando nenhum para trás, e, também, pelo contributo dado no que se refere ao robustecimento do tecido económico e social das diferentes regiões em que as escolas profissionais estão inseridas.

Passadas três décadas, contam-se por muitos milhares os jovens que já passaram pelas escolas profissionais, e muitos como primeira escolha, colocando-se ao mesmo nível de conhecimentos e competências dos colegas que frequentam cursos profissionais similares em países como a França, Alemanha, Suécia ou Noruega.

Infelizmente, em Portugal, em vez de se desmistificar a representação social desta modalidade de ensino que confere equivalência ao 12º ano e uma qualificação profissional de nível IV, tal como acontece na União Europeia, são as próprias escolas, básicas e secundárias, que fazem questão de desvalorizar esta via de ensino fazendo crer que se trata de uma resposta educativa e formativa para maus alunos.

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Acontece, porém, que a história veio provar o contrário e, na verdade, o que se constata é que os alunos são catalogados como maus, não porque sejam destituídos, mas apenas porque aquela escola não é suficientemente atrativa para eles. O que se constata é que logo que mudam para outra escola e para cursos ligados aos seus centros de interesse vocacionais, são alunos de sucesso, quer na escola, quer nas empresas e, também, nas Universidades e Politécnicos.

O que importaria que fosse feito pelo Ministério da Educação era encontrar as formas adequadas para ajudar os alunos e os pais a detetar os centros de interesse vocacional dos alunos antes de terminam o 9º ano de escolaridade. Os jovens, porque são ainda relativamente novos, e as famílias, porque não têm informação e desconhecem as diferentes opções proporcionadas pelas escolas profissionais, precisam de muito apoio em termos de orientação vocacional. A questão central é que esse apoio, na generalidade dos casos, não é prestado e muitas vezes o aconselhamento é feito mais a pensar nos centros de interesse dos professores e menos nos alunos que pretendem frequentar cursos profissionais sendo, muitas vezes,  desaconselhados a fazê-lo, apenas com o argumento de que são alunos com “boas notas” como se, a maior parte dos alunos que frequentam os cursos profissionais não fosse composta por alunos de boas notas.

Um outro dado relevante tem a ver com o contributo que as escolas profissionais têm dado para a redução dos fenómenos do abandono e insucesso escolar. A experiência diz-nos que os alunos que frequentam cursos que gostam são alunos assíduos, pontuais, com bons resultados escolares, com bom desempenho em estágios, quer no país, quer no estrangeiro, designadamente, no âmbito do Programa ERASMUS+.

Sabemos que, em Portugal, a percentagem de jovens e frequentar cursos profissionais, na idade própria, ou seja, entre os 15 e 18 anos, é de apenas 32%, quando, atentas as metas definidas pelo governo, deveríamos estar próximos dos 50%. Sabemos que nos países mais avançados da Europa, económica e socialmente, a percentagem de alunos do ensino secundário em percursos qualificantes ronda os 70% e também sabemos que a meta de alunos diplomados pelos estabelecimentos de ensino superior deveria ser de 40%.

Face a este panorama, temos que refletir sobre o que fazer para alterar este estado de coisas e não resisto a falar sobre recente a polémica sobre o acesso dos alunos que frequentam cursos profissionais ao ensino superior. Queria dizer que a ANESPO, que representa as Escolas Profissionais, nunca questionou a realização de provas, mas, também, nunca aceitou, por ser de inteira justiça, que os alunos que seguem os planos curriculares do ensino profissional tivessem que fazer os exames sobre matérias que não fazem parte dos conteúdos programáticos dos cursos, designadamente, as exigidas aos alunos dos cursos científico-humanísticos.

A ANESPO não aceita que, no acesso ao ensino superior, não se trate de forma igual o que é igual, e se trate de forma diferente o que é diferente. A ANESPO não aceita que o facto de ser diferente seja etiquetado como menos exigente. Os alunos das escolas profissionais têm um número de horas nas componentes sociocultural e científica muito idêntico ao que é ministrado aos alunos dos cursos científico-humanísticos, acrescentam muitas mais horas de formação na componente técnica, tecnológica e prática dos cursos, apresentam, perante um júri externo, as provas de aptidão profissional e fazem estágios nas empresas conseguindo, normalmente, elevadas notas.

Atento este quadro, tenho a expectativa de que, passados trinta anos, as escolas profissionais continuem a ser os faróis da inovação, continuem a ser organizações prestigiadas que mais não fazem que preparar os jovens para o futuro. Incerto, é verdade, mas um futuro promissor para todos quantos tenham a preocupação de se prepararem e armarem com um leque, o mais alargado possível, de saberes e competências, como acontece com os alunos das escolas profissionais.

Presidente da ANESPO – Associação Nacional de Escolas Profissionais

‘Caderno de Apontamentos’ é uma coluna que discute temas relacionados com a Educação, através de um autor convidado.