Vivemos uma era dourada no que toca a startups e iniciativa empresarial, não só em Portugal mas no mundo em geral. Esta era dourada tem, no entanto, mais impacto em Portugal do que em muitos outros países. Este impacto mais significativo em Portugal tem a ver maioritariamente com três factores:

  1. Porque temos vivido nos últimos anos uma crise económica profunda com subsequente estagnação de crescimento económico;
  2. Porque temos tradicionalmente um tecido empresarial muito ligado à prestação de serviços e com pouca tradição na criação de produto;
  3. Porque estamos, de facto, a fazer várias coisas bem e a aproveitar o boom de startups com elevado potencial de sucesso que têm surgido nos últimos anos em Portugal.

Mas será que tudo são rosas? Obviamente que não. Em Portugal (tal como no resto do mundo) há, de facto, algumas startups com imenso potencial e que estão ao nível do melhor que existe lá fora. No entanto, a esmagadora maioria dificilmente se tornará no futuro numa verdadeira história de sucesso. E até aqui tudo bem. Não há nenhum problema em nada disto, porque é virtualmente impossível distinguir, à nascença, uma futura empresa líder mundial de outra que irá desaparecer ao longo dos próximos anos. Pelo que é normal existirem muitos mais falhanços do que sucessos.

O problema surge quando as histórias de sucesso definem, como tal, algo que está longe de realmente ser sucesso. Claro que a definição de sucesso é algo particularmente pessoal. Para uns poderá ser criar um lifestyle business que lhes garanta um retorno regular ao longo do tempo. Para outros poderá ser fazer crescer rapidamente a empresa e listar em bolsa. Para uns, a métrica será o retorno financeiro, enquanto que para outros será o impacto social.

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Tudo isto está correcto e depende das ambições e objectivos de cada um. É no entanto crítico compreendermos porque estamos a criar uma empresa e qual será a nossa definição de sucesso. Infelizmente assistimos a demasiados casos de histórias de sucesso que, na realidade, não o são.

Para uma startup, ganhar um prémio, levantar capital, aparecer nos jornais ou contratar mais gente não é, normalmente, equivalente a sucesso (a não ser que o objectivo último da empresa seja efectivamente aparecer nos jornais). Pode fazer parte do percurso para o sucesso (seja ele qual for) mas não é tipicamente um fim em si. Adicionalmente, quando falamos de startups com investimento externo, a definição de sucesso tem obrigatoriamente de incluir gerar uma mais valia significativa para os investidores.

Levantar uma ronda de capital pode fazer parte desse trajecto, ganhar um prémio ou aparecer na comunicação social pode ser uma estratégia de marketing para crescer e chegar a novos clientes e duplicar o número de colaboradores pode ser necessário para atingir os objectivos. Mas quando começamos a medir o sucesso ou insucesso pelo tamanho das rondas de investimento, número de prémios ou tamanho da força de trabalho, estamos a subverter a razão pela qual as empresas existem e muito rapidamente nos desviamos do nosso objectivo primordial. Estas massagens ao ego, para além de criarem exemplos errados para futuros empreendedores, criam também o risco muito real de fazer com que um empreendedor gaste o seu tempo em futilidades e perca a noção de onde tem de chegar para realmente atingir o tão desejado sucesso.

Portugal está a caminhar para se tornar num dos principais hubs de empreendedorismo a nível Europeu, mas ainda não estamos lá. Falta-nos a capacidade de criar casos de sucesso (e neste caso refiro-me a retornos significativos para os investidores e empreendedores) que sejam referências a nível mundial e a capacidade de o fazer consistentemente, algo que apenas acontecerá quando tivermos os empreendedores de hoje a tornarem-se investidores e a ajudarem a desenvolver a próxima geração sucessos.

A razão porque penso que estamos no caminho certo é porque temos, per capita, uma percentagem de startups que estão a começar a dar cartas no plano internacional acima da média. Mas se isso resultar em deslumbramento e em começarmos a dar mais importância aos falsos indicadores de sucesso do que ao sucesso em si, rapidamente iremos inverter essa tendência e deitar tudo a perder.

Não acho que isso vá acontecer. Acho que vamos saber focar no que realmente interessa, mas o primeiro passo para resolver um problema é saber que ele existe. E, de facto, ele existe.

Carlos Silva é fundador e CEO da Seedrs