Depois das eleições de 10 de março, temos duas hipóteses: ou damos força aos fatores políticos e ideológicos e entramos num precipício, insanável e com duração ilimitada ou, muito melhor para os portugueses, cerramos fileiras em torno do grande desafio e oportunidade para Portugal que  é o do crescimento económico sustentado, aproveitando dois ativos que foram conquistados nos últimos anos: os financiamentos europeus de mais de 60 mil milhões de euros do PRR, Portugal 2030 e Horizonte Europa e, por outro lado, a credibilidade internacional resultante da política das contas certas, crucial para nos mantermos nas rondas de investimento e capitalização internacionais.

Este crescimento sustentado deve assentar numa nova estratégia, tipo pacto de regime estrutural para as próximas décadas, imune à composição dos governos, com uma só prioridade/critério: bom investimento que nos potencie os recursos endógenos e territórios à escala mundial. Só esta estratégia de aproveitamento dos fundos comunitários permite resolver com sucesso os principais problemas estruturais do País que são o excesso de endividamento externo e a fraca produtividade de fatores.

Nos últimos 20 anos, a nossa produtividade cresceu 0,7%, abaixo do crescimento médio anual da Europa e de Espanha (0,8%) e significativamente abaixo de países como a Polónia, Lituânia, Roménia e República Checa (que tiveram no mesmo período uma taxa crescimento acima de 3%). O crescimento anual estimado do nosso produto potencial (pleno emprego de fatores), para os próximos quinze anos, é de 0,9%, de novo abaixo do crescimento médio dos 28 países europeus (1,3%).

Em linha com os eixos estratégicos da digitalização e sustentabilidade, que emanam dos três quadros europeus de financiamento, este bom investimento deve reposicionar a nossa oferta competitiva de bens e serviços, em segmentos e atividades que irão ter um crescimento na procura mundial e no comércio internacional. Aos atuais polos de especialização da economia deve adicionar-se uma nova camada de atividades mais intensivas em conhecimento e inovação.

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Existe atualmente um enorme potencial da nossa economia que assenta no alinhamento entre, por um lado, uma nova geração de portugueses, nascidos na década de 90 do século passado, mais educada, muito viajada e com enormes capacidades e, por outro, uma aposta em setores da economia globalizada 4.0, ‘independente do espaço’, baseada na informação e em indivíduos hábeis, que tanto trabalham para empresas portuguesas ou estrangeiras, cá ou lá fora.

Por outro lado, em linha com o que defende o economista José Félix Ribeiro, temos um quadro propício para valorizar nas 2 macroregiões do País (Região Arco Metropolitano de Lisboa e Sul Litoral e a Região Norte e Centro Litoral) os principais protoclusters, que consistem em Start ups, PME´s, e também multinacionais, organizadas em torno de tecnologias e/ou funções que se distinguem de atividades já consolidadas, e que as vocacionam para exploração do mercados externos, com ligação estreita a polos de conhecimento que são fundamentais para sua implantação competitiva no país. Identificamos facilmente os protoclusters solar térmico e fotovoltaico; mobilidade eléctrica; automação e robótica industrial e móvel; farmácia, biotecnologia e engenharia biomédica; telecomunicações, Aeronaútica; e Engenharia do petróleo e gás offshore.

As 54 agendas mobilizadoras do PRR, que estão em curso até 2026, e que representam mais de 7,7 mil milhões de euros de investimento (com um incentivo de quase 3 mil milhões de euros) e a criação de mais de 18 mil postos de trabalho (11 mil qualificados), são o melhor exemplo em como esta estratégia é exequível. A lógica de financiamento em consórcio, unindo universidades, centros tecnológicos, grandes e pequenas empresas, é excelente sob o ponto de vista da aplicação integrada e sinergética de recursos.

Assim, como crescer é uma questão relativa, que divide ou aproxima, com maior ou menor intensidade, as forças políticas. Penso que, no final do dia, mais para a esquerda ou para a direita, apenas precisamos de duas coisas: maior dimensão das nossas empresas (hoje mais de 99% são PME) e de menos e melhor Estado.

A carga fiscal, nos últimos dez anos, passou de 32% para 38% PIB. Portugal apresentou a 5ª maior subida e é um dos 8 países da União Europeia que mais fez crescer a sua carga fiscal. Fruto do crescimento da despesa corrente das administrações públicas (cerca de 4 mil milhões de euros, de 2011 a 2019). Pior, e em sentido contrário, o peso da Formação Bruta de Capital Fixo no PIB passou de 28%, em 2000 para 16,8%, em 2017 – nesse período, apenas a Grécia tem um peso do investimento no produto interno bruto inferior ao nosso, estando a média da União Europeia acima dos 20%.

Para que a aposta estratégica no investimento produtivo e na nossa competitividade externa sejam sustentáveis parece-me assim fundamental garantir, por um lado, o redimensionamento empresarial, dada a pequena dimensão das empresas portuguesas e a sua fraquíssima capitalização (as micro e pequenas empresas são cerca de 60% a 80% menos produtivas do que as médias e grandes) e, por outro lado, reduzir o peso do Estado na economia e implementar arrojadas políticas fiscais e laborais, que mantenham e criem emprego de forma sustentada.

Só com redimensionamento e desagravamento e previsibilidade fiscal conseguiremos garantir inovação e aumentar a competitividade externa da economia, fazendo crescer a nossa intensidade de exportação acima dos 60% do PIB, mas também criando mais incentivos e condições (um verdadeiro choque fiscal e de instalação) para atrair investimento nacional e os fundamentais investimentos diretos de empresas estrangeiras.

Assim, os nossos jovens ficam cá, o crescimento acontecerá e nem nos aproximamos do precipício. Porque demos primazia à economia e afastámo-nos da política.