A doença cardiovascular continua a ser a principal causa de morte na mulher em todo o mundo e também em Portugal. A menopausa é um processo biológico natural que ocorre nas mulheres à medida que envelhecem, em média a partir dos 50 anos. Marca o fim dos anos reprodutivos da mulher e é clinicamente caracterizada pelo fim da menstruação. Embora a menopausa em si seja um processo natural da vida da mulher, está associada a diversas alterações hormonais e fisiológicas que, na transição da vida fértil para a menopausa, afectam nomeadamente a sua saúde global da mulher e aumentam o seu risco cardiovascular.

Apesar de a doença cardiovascular ser a principal causa de morte entre as mulheres, os resultados de um inquérito de 2019 realizado nos EUA revela que apenas 44% das mulheres estão conscientes disto. De facto, também em Portugal, as mulheres apresentam mais receio com outros temas da saúde, como o cancro da mama, do que perante a “epidemia silenciosa” da doença cardiovascular. Esta falta de consciencialização é transversal à comunidade médica e científica e à sociedade em geral.

Durante a transição para a menopausa existem alguns pontos-chave a serem considerados, como é o caso das alterações hormonais, com a diminuição significativa na produção de estrogénio, uma hormona com efeitos protetores no sistema cardiovascular e propriedades anti-inflamatórias, sendo vasodilatador direto e regulando ainda os níveis de colesterol.

Regista-se também um ganho de peso, com a redistribuição da gordura e menor eficiência da massa muscular com maior dificuldade de perda de peso. Algumas mulheres apresentam também um aumento na tensão arterial durante a menopausa. Este é um fator de risco significativo para doenças cardiovasculares, incluindo o acidente vascular cerebral e enfarte agudo do miocárdio.

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Existe ainda um risco aumentado da chamada síndrome metabólica, com obesidade central, tensão arterial alta e níveis elevados de açúcar e gordura no sangue. Esta síndrome é um fator de risco significativo independente de doenças cardiovasculares. Finalmente, pode verificar-se uma inflamação generalizada, com um risco elevado de eventos cardiovasculares.

Para reduzir o aumento do risco cardiovascular associado à menopausa, as mulheres e os profissionais de saúde devem procurar mudanças no estilo de vida, adotando um estilo de vida saudável para o coração que pode ajudar a reduzir o risco cardiovascular. Isto inclui manter uma dieta equilibrada, praticar atividade física regular, evitar fumar e limitar o consumo de álcool.

Aconselha-se também a realização de “check-ups” regulares de saúde: a triagem do risco cardiovascular deve ser realizada em todas as consultas de rotina para mulheres com idades entre 40 e 75 anos. A estratégia de avaliação do risco de doença cardiovascular aterosclerótica delineada nas diretrizes de prevenção primária de 2019 reconhece como os fatores de risco aumentam com a idade, tanto em mulheres como em homens. Fornece também uma abordagem abrangente centrada no doente para determinar quais as mulheres que podem beneficiar de estratégias de redução do risco de doença cardiovascular, como por exemplo, através de medicação. É essencial que as mulheres na menopausa avaliem a tensão arterial, os níveis de colesterol e os níveis glicémicos de forma regular.

A terapia hormonal como tratamento de primeira linha dos sintomas vasomotores, deve ser recomendada a todas as mulheres sintomáticas, sem contraindicações e na “janela de oportunidade” dos primeiros 5 a 10 anos após a menopausa. Em alguns casos, podem ser prescritos medicamentos para controlar fatores de risco cardiovasculares específicos, tais como a tensão arterial alta ou o colesterol elevado.

Em suma, compreender os potenciais riscos cardiovasculares associados à menopausa e tomar medidas preventivas para os gerir é crucial para manter a saúde cardíaca. As mulheres devem ser parte integrante de todo o processo para que se possa promover uma abordagem personalizada da gestão do risco cardiovascular com base na saúde individual e nos seus fatores de risco. Só assim iremos verdadeiramente salvar vidas.