Palavras leva-as o vento… entre todos aqueles, e são muitos, que dizem defender o SNS, bastantes apostam na manutenção de pequenas quintas ou no agravamento do caos, potenciador de lucros futuros ou de agendas estranhas aos interesses de profissionais e utentes dos serviços de saúde.

Encontramo-nos numa encruzilhada, ponto de viragem ou de queda no vazio, com a debandada de médicos do SNS; urgências encerradas; atrasos na realização de consultas ou cirurgias programadas.

São já mais as camas hospitalares no setor privado da saúde, o qual realiza já cerca de 40 % dos atendimentos urgentes nacionais e conta com a maioria dos médicos portugueses. Simultaneamente, o estertor do SNS é cada vez mais evidente: salários baixos; horas de trabalho excessivas; más condições de trabalho; equipamentos obsoletos; “burnout”.

A maioria da população, a que não tem ADSE ou capacidade para ter um seguro de saúde, vê-se confrontada com o pagamento de cada vez mais atos médicos, aqueles que que, de acordo com a lei fundamental, deveriam ser assegurados gratuitamente pelo Estado. Em Portugal, os cidadãos pagam pelos cuidados de saúde, o dobro dos restantes cidadãos europeus. Esta é a triste realidade do SNS atual.

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Na tomada de posse do Dr. Carlos Cortes como Bastonário da Ordem dos Médicos, tive a oportunidade de felicitar o, ainda, ministro da saúde, Dr. Manuel Pizarro, pelas palavras de esperança e de otimismo então proferidas. Afirmei-lhe, nessa altura, a tendência das palavras se colarem a quem as profere

Passado este tempo, em final antecipado de mandato ministerial, assistimos à instalação do caos e de posições cada vez mais extremadas no SNS, com prejuízo óbvio para os portugueses. As soluções propostas são fracas e não se apresentam capazes de diminuir o número de portugueses sem médico de família, nem de melhorar o acesso a cuidados hospitalares a tempo e horas. Não serão, com certeza, as ULS, criadas com base em planos de negócio e não em planos assistenciais, que resolverão o problema. Basta ver o estado das ULS anteriormente criadas com resultados muito aquém das expectativas, só a de Matosinhos            consegue manter bons indicadores assistenciais.

Palavras leva-as o vento, mas algumas colam-se a quem as proferiu, a quem teve a abertura dos profissionais para o ajudar a resolver os problemas do acesso da população aos cuidados de saúde, mas que, preferiu a retórica a ações determinadas em prol do SNS e do Sistema de Saúde.

Costuma dizer-se ser nas grandes dificuldades que sobressaem os valores individuais, que são as grandes crises a revelar os grandes líderes. Esperamos, ansiosamente, pelo(a) senhor(a) que se segue, que entretanto não seja tarde demais para tantas pessoas…