Há muitos anos, havia um anúncio que dizia que “poupar é mandar dinheiro para o futuro”. Com a saúde passa-se o mesmo, ou seja, o que fazemos hoje envia ou retira saúde no futuro.
A saúde é um bem inestimável e a sua preservação deve acontecer ao longo de toda a nossa vida. Porém, a realidade – e os dados – revela-nos que muitos portugueses não pensam (logo, não agem) dessa forma.
Segundo o Eurobarómetro, 73% dos portugueses dizem nunca fazer exercício ou praticar desporto, um aumento de mais cinco pontos percentuais em relação a 2017. Para agravar a situação, em Portugal, apenas 17% dos adultos fazem mais de 150 minutos de exercício físico semanal, sensivelmente metade da média da União Europeia (UE). 25% dos nossos jovens com mais de 15 anos indica passar oito ou mais horas diárias inativo (sentado ou deitado; não considerando o tempo passado a dormir). A falta de atividade física está associada a um maior risco de doenças crónicas, como a obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares.
Falando de alimentação, de acordo com o estudo “A Saúde dos Portugueses: Um BI em Nome Próprio”, do Projeto Saúdes (www.saudes.pt), 69% dos portugueses consideram a alimentação como um fator determinante para se ser saudável. No entanto, em puro contraste, a percentagem de adultos classificados como obesos em Portugal está nos 17%. Nas camadas mais novas, em 2022, 20% dos jovens portugueses de 15 anos tinha excesso de peso e/ou obesidade (dados alarmantes para o futuro da nossa saúde coletiva).
A falta de atividade física e a alimentação pouco saudável estão interligadas e são fatores de risco comportamentais que contribuem para a mortalidade prematura e, claro, para o menor número de anos com saúde que temos após os 65: oito anos em média em Portugal, quando a média da UE está nos 10.
Para poder mudar este paradigma é necessário que as políticas públicas promovam, desde cedo, a adoção de comportamentos saudáveis (a OCDE recomendou, aliás, o objetivo de reduzir a inatividade física a nível global, em 15%). Mas, em nome da sustentabilidade e do equilíbrio do sistema, e por uma questão de cidadania, as entidades privadas, como as marcas de saúde, também devem cumprir o seu papel.
Uma das formas de o fazermos é, claro, via tecnologia e ferramentas digitais, as quais permitem uma saúde mais próxima, ágil e inclusiva. De acordo com outro inquérito, do Projeto Saúdes, 35% dos portugueses acompanha diariamente o seu peso através de uma aplicação; 28% conta os passos ou quilómetros percorridos; 25% as horas de sono; 19% o ritmo cardíaco e 17% a água ingerida. Estas métricas são (ou podem ser) uma inspiração para bons comportamentos, funcionando não só como formas imediatas de autodiagnóstico, mas, sobretudo, como estímulos diários à concretização de metas, alavancando a vontade de as superar.
Aumentarmos a medição e o acesso às métricas – a saúde digital – pode, por isso, ser um auxiliar precioso na mudança de paradigma que tanto precisamos. É que se, tal como o dinheiro, a saúde pode ser enviada para o futuro, há uma diferença enorme: temos, a todo o momento das nossas vidas, a capacidade de gerar dinheiro ou riqueza. Já o mesmo não se pode dizer, infelizmente, sobre a saúde. Urge potenciar já hoje, e sempre, a saúde de amanhã.