1 Quando começaram os problemas na TAP antes do Verão, escrevi um artigo onde dizia que “António Costa estava a dar a Pedro Nuno Santos a corda com que se iria enforcar.” Costa continua a dar corda a PNS e o ministro agarra-a com força. A frieza e o cinismo do PM são igualmente impressionantes. Em Bruxelas, durante o Conselho Europeu da semana passada, humilhou o ministro tratando-o “como uma má fonte” de notícias sobre o governo. Logo a seguir, respondendo a uma pergunta sobre o caso SEF, o PM afirmou que por regra não se pronuncia sobre política portuguesa quando está fora do país. Nunca assisti a uma humilhação maior de um ministro pelo seu chefe de governo.
Obviamente, PNS já percebeu que as suas aspirações à liderança do PS podem ficar comprometidas. Estou convencido que procurou a votação no parlamento para se poder demitir com honra. Sem a votação, impedida por Costa, uma demissão pareceria uma fuga. Mas PNS ganhou margem política para se demitir no futuro, e tentar salvar as suas hipóteses de suceder a Costa. Se um dia for necessário votar um orçamento extraordinário por causa da TAP, e o governo perder, PNS sairá do governo dizendo que estava certo.
Por uma mera teimosia ideológica, este governo em 2015 resolveu readquirir uma maioria acionista na TAP. Como se vê agora, com esse passo imprudente, transferiu a dívida que a TAP tinha na altura, quase três mil milhões de euros, para os contribuintes portugueses. Aparentemente, disse-nos PNS, os problemas da TAP vinham de anos anteriores, não começaram com a pandemia. Bem sei que PNS não tutelou a TAP entre 2015 e 2019, mas o que andou o governo socialista a fazer quando o Estado já era o maior acionista da TAP? Se havia problemas, por que não tentaram resolvê-los e esperaram pela crise provocada pela pandemia? A verdade é que o governo ainda poderá ter que injectar mais de três mil milhões de euros para salvar a TAP.
O futuro da TAP transformou-se assim no campo de batalha entre Costa e PNS. O PM deseja que a TAP acabe com as ambições de PNS em relação à sua sucessão. O ministro pretende suceder a Costa, apesar da TAP. Mas esta disputa pode levar ao fim da companhia aérea e custará muitos e muitos milhões aos portugueses. Será a luta pela liderança de um partido mais cara da história portuguesa.
2 Oficiais do SEF assassinaram um cidadão ucraniano no aeroporto de Lisboa há 9 meses. O que faz o ministro da tutela? Apresentou-se como um campeão dos direitos humanos e iniciou imediatamente uma reforma do SEF, tentando transmitir a ideia que nada tem a ver com o passado recente do serviço, tutelado pelo governo socialista desde 2015.
Este caso também revelou os três princípios sagrados da governação socialista:
- O PM defende os seus amigos até ao fim. A amizade, e não a competência, é o critério central das escolhas deste governo.
- Aconteça o que acontecer, um ministro socialista nunca se demite (o exemplo de Jorge Coelho está enterrado no passado). O apego ao poder é muito mais importante do que a honra de uma pessoa.
- O governo socialista nunca é culpado de alguma coisa. Apesar de terem passado 19 dos últimos 25 anos no governo, os socialistas conseguem começar sempre do zero. Nenhum outro partido no mundo tem este talento.
3 Ontem acabou oficialmente o pesadelo Trump como Presidente dos EUA, com a eleição de Biden pelo colégio eleitoral. Agora, seria muito importante que os republicanos ganhassem as eleições na Geórgia, no próximo dia 5, para manterem a maioria no Senado. Permitiria maior autonomia do partido em relação a Trump. E ajudaria Biden a reforçar o seu poder e afastar o fantasma Obama, a maior ameaça à autoridade política do novo Presidente.