Por estes dias, as atenções do mundo estão concentradas em Paris. Afinal, a Cidade Luz foi o palco escolhido para um evento que só se tem oportunidade de testemunhar uma vez na vida. Falo, como é óbvio, da cerimónia realizada na embaixada de Portugal em Paris, transmitida em direto pela SIC, em que Marcelo Rebelo de Sousa condecorou Tony Carreira.

Ao leitor menos atento aos grandes temas da actualidade, a atenção que dedico a este assunto pode, à primeira vista, parecer ainda mais disparatada do que a conferida ao mesmo pelo mais alto papá do facilitador de dispendiosos tratamentos de saúde em hospitais públicos da Nação. Mas tal deve-se apenas ao facto de o leitor ainda não ter comprovado a declaração de Marcelo Rebelo de Sousa a justificar a comenda. Por isso aqui fica. Disse o Presidente da República: “Tony Carreira tem a sua vida, tem a sua obra, tem a sua carreira – tem a sua carreira, até o nome é bem escolhido.” Tumba! Sai um grau de comendador da Ordem do Infante D. Henrique e não se fala mais nisso!

Com isto, os Jogos Olímpicos passaram um bocado despercebidos na capital francesa. Tanto é que não houve espectador presente nas margens do rio Sena no passado dia 26 a não comentar, fortemente indignado, “mas que raio é isto?! Então eu vim a Paris para ver lançadoras do peso uzbeques a andar de cacilheiro? Quando é que passa mas é o bateau- mouche do Tony Carreira, pá?”

É que mesmo que nos cinjamos ao factor desportivo, Tony Carreira é muito mais relevante que uns míseros Jogos Olímpicos. Pierre de Coubertin coraria de vergonha na presença de Tony. Afinal, estamos a falar do homem que, sozinho, criou toda uma nova versão do triatlo. Começa com uma prova de marcha, duríssima, na fila para adquirir bilhetes para um dos seus concertos; quando abrem as portas do recinto, é tempo para os 110 metros barreiras, a passar por cima de quem for para ficar na primeira fila; e quando o homem começa a cantar, é altura da prova de lançamento da roupa interior para o palco. Ah, pois, não é à toa que Taylor Swift é conhecida como a Tonya Carreira americana.

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Olha, nem de propósito, o transgenderismo. É que a cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris ficou marcada pela polémica recriação da Última Ceia a cargo de um grupo de drag queens. Polémica escusada, parece-me. Enfim, admito faltarem-me três ou quatro pós-graduações em Estudos de Género para ter a certeza do que afirmo. Mas se a dita performance poder ser considerada trans, não há razão para tanto sururu. Quem ficou chocado com esta Última Ceia pode perfeitamente considerá-la um Primeiro Lanche, um Segundo Pequeno-Almoço, ou um Derradeiro Jantar.

Saudade de quando os Jogos Olímpicos eram vividos de forma mais simples, como em 1980, quando o mundo se resumia a um facílimo “será que vamos ser todos aniquilados por uma guerra nuclear, ou não”. Meu bom e velho binarismo, onde andas tu? E que será feito do fofinho urso Misha? A mascote dos tais jogos de Moscovo, então talvez subtil símbolo do abraço de urso que os comunistas desejavam dar ao mundo, e que hoje seria, por certo, ícone de indivíduo volumoso e de estilo rude, repleto de pilosidade e apreciador de outros indivíduos volumosos e de estilo rude, repletos de pilosidade.

Já que mencionei ursos, na Venezuela Nicolás Maduro diz ter ganho as eleições e em Portugal o PCP garante que Nicolás Maduro ganhou as eleições na Venezuela. Em 2006, a revista The Economist criou o Democracy Index, para examinar o estado da democracia em 167 países. Os países mais bem classificados têm democracias mais evoluídas. É um bom índice, mas não mais preciso que o criado pelo Partido Comunista Português aquando da sua fundação: qualquer regime que o PCP apoie é 100% garantido tratar-se de uma, passo o pleonasmo, execrável ditadura.