“Todos podem efetivamente melhorar a sua saúde oral com o mínimo de tempo e investimento financeiro”, refere Cyprien Rivier, pós-doutorado em neurologia da Escola de Medicina de Yale.

Depois de analisar os resultados do estudo efetuado, explica: “A má saúde oral pode causar declínios na saúde neurológica, por isso precisamos de ter cuidado extra com a nossa saúde oral, porque tem implicações muito além da cavidade oral”.

Atentos que a importância destes cuidados vai além do bem-estar individual, os problemas causados por uma saúde oral deficitária afetam a sociedade como um todo.

Doenças da cavidade oral, como a cárie, podem ter repercussões na capacidade de aprendizagem da criança, causando diminuição do apetite, depressão e incapacidade no foco e atenção – com um risco elevado de menor frequência escolar e desempenho na aprendizagem.

Estatísticas apontam para que crianças de famílias com acesso limitado a cuidados preventivos perderão três vezes mais dias de aulas devido a problemas de saúde oral.

As consequências para os adultos podem incluir a progressão dolorosa da doença dentária e inevitavelmente dispendiosas idas ao hospitalar e dias perdidos no trabalho.

Para não falar na autoestima e capacidade de se socializar de forma eficaz. Os sintomas de má saúde oral podem levar ao comprometimento do funcionamento social e psicossocial.

Em termos cotidianos, uma saúde oral comprometida significa que é menos provável causar uma primeira impressão positiva. É menos provável sorrir, interfere na felicidade e bem estar social – aumenta significativamente o risco de demência e deterioração cognitiva.

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De salientar que apesar dos cuidados de saúde oral em Portugal estarem inseridos em insuficientes e escassos programas de cuidados de saúde primários, a maioria desses serviços de estomatologia ou medicina dentária continuam a ser prestados pelo setor privado, o que constitui, por si só, uma barreira na acessibilidade aos mesmos e uma dificuldade acrescida para as famílias de menores recursos.

Existe uma carência inquestionável atual do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Apesar de todos os avanços de que o SNS foi alvo, é importante referir que o único serviço de saúde onde não existe universalidade, além dos cuidados de saúde mental, é justamente o da saúde oral. Por outro lado, temos uma vulnerabilidade dos profissionais de saúde oral, até porque a maioria dos médicos dentistas, são trabalhadores independentes no setor privado. De facto, não existe nenhuma carreira que nos permita estar integrados nos quadros do SNS. Entretanto, a falta de respostas de proximidade em saúde oral tem levado à celebração de contratos de prestação de serviços entre os ACES (agora ULS) e empresas de trabalho temporário que “fornecem” médicos dentistas, existindo hoje cerca de 135 a 150 médicos dentistas em centros de saúde, escassíssimos para assegurar estes cuidados primários.

Entretanto, nos 28 hospitais do SNS com Serviços de Estomatologia, existe cerca de 150 especialistas em estomatologia e cerca de 60 médicos internos da especialidade, tratam os doentes internados e os que apresentam problemas orais em contexto de multipatologia, polimedicação e “necessidades especiais”, e ainda dão a cobertura (im)possível aos doentes que os cuidados primários não conseguem tratar, por manifesta falta de profissionais de saúde oral. Creio que fazem tudo o que está ao seu alcance, e com um profissionalismo extremo e inquestionável. No entanto necessitam claramente de ajuda, de trabalhar em equipa com os médicos dentistas, que estão a ser formados, paradoxalmente, em excesso.

O tratamento preventivo regular é vital. Muitas doenças orais são evitáveis com tratamentos precoces, incluindo 80% da cárie infantil, que poderia ser evitada. E cada euro gasto num atendimento preventivo, significa uma poupança muito maior em tratamentos num contexto de urgência.

Estas mudanças necessárias em grande escala exigem comprometimento e ação de todos os principais interessados – incluindo académicos, profissionais de saúde, Ordem dos Médicos Dentistas, Ordem dos Médicos, Governo, bem como da FDI World Dental Federation e da OMS – para colocar a saúde oral na vanguarda da saúde global e agendas de saúde pública.

Termino com a eterna lembrança, de que cerca de metade dos Jovens médicos dentistas emigram por não haver espaço para os acolher: não temos carreira no SNS!

No entanto, a população espera por nós e por políticas construtivas que integrem a saúde oral na agenda da saúde.

Do futuro governo espera-se uma intervenção célere e consistente, em plena articulação com os profissionais e os seus representantes, as instituições do setor e a sociedade.

A saúde de quem vive em Portugal, independentemente da sua idade e da sua condição social, assim o impõe!