Em 2004, fundei a ENTRAJUDA para levar gestão e organização às instituições de solidariedade, nomeadamente aos Bancos Alimentares. Foi esta, a instituição responsável por uma rede que permitiu dar resposta à emergência alimentar e que, infelizmente, vai durar mais do que imagináramos. Nada o faria prever: 18570 novos pedidos de ajuda, 58 mil pessoas, uma onda de inesperados novos pobres que nasceu na pandemia e que cresce todos os dias. Profissionais das artes, do turismo, dos ginásios, empresários e demais trabalhadores precários e da economia informal que, de uma forma súbita e imprevista, ficaram sem sustento: se já tínhamos um vírus a comprometer a saúde e a vida, outro corre em paralelo e que, num suspiro, também pode matar. É por isso que, mais do que nunca, a mobilização de toda a sociedade neste momento tão difícil acaba por ser o mais importante anti-inflamatório para este vírus que nos assola e que, seguramente, terá um impacto imensurável na casa de muitas famílias portuguesas.

De dentistas a taxistas, cabeleireiras, empresários, artistas, os pedidos chegam de toda a parte e o problema central é que, ao contrário do que se pensa, a crise social instalou-se nas mesmas dimensões que a Covid-19: de forma inesperada, incontrolável e com efeitos totalmente imprevisíveis. Não há estudos que nos preparem para mais de 58 mil pessoas a pedir ajuda para comer, famílias com crianças a cargo, nem tubos de ensaio que nos permitam prever o que acontecerá quando tudo isto, aparentemente, terminar.

Utilizar apoios europeus para ajudar a preservar empregos e recorrer a todos os meios disponíveis para fazer com que as empresas preservem a sua actividade, deverá ser preocupação primordial das entidades governamentais. É urgente que as empresas voltem a dar emprego e trabalho às pessoas, que voltem a dar-lhes a possibilidade de ser donas da sua própria vida, porque, se num primeiro momento as pessoas da economia informal se vão aguentar, precariamente, por via de pequenos trabalhos remunerados de forma imediata, muitas empresas vão dispensar colaboradores e fazer despedimentos depois desta experiência do teletrabalho.

É por isso que, quando empresas se unem à Rede de Emergência Alimentar, o fazem com a clara noção de que estão a entrar pela porta principal da casa das famílias portuguesas e a ajudar pessoas que ficaram sem recursos, ou apoios, a fazer uma alimentação saudável de que tanto necessitam. É desse esforço que nascem projectos como o #JUNTOS, da Danone Portugal, por exemplo, que desafiam a solidariedade e o potencial do digital para fazer chegar a mais de dois milhões de famílias algo tão simples, mas altamente rico e nutritivo como um iogurte. É com base nesse princípio, dedicação e vontade, que quando marcas firmam compromissos com a Rede, que era inicialmente um projecto temporário e que agora não sabemos até quando estará activo, firmam-no com o Manuel, a Maria, o Francisco, a Joana e com milhares de nomes com rosto, família e necessidades absolutamente inimagináveis.

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À semelhança da grave pandemia que vivemos, começa a ser também imprevisível definir quanto tempo vai durar esta crise que cresce, todos os dias, em paralelo. As próximas estações preocupam-nos, por serem alturas do ano em que as necessidades se adensam, e a recuperação económica, que se prevê lenta e gradual acontecerá, seguramente, num ritmo antítese aquele que precisamos para responder às necessidades dos cidadãos.

É por isso que, mais do que nunca, a coesão social terá de ser palavra de ordem no dia-a-dia de todos nós. Juntos temos de ser um e perceber que no cumprimento dos Objectivos do Desenvolvimento Sustentável e, em especial, no combate e luta contra a fome, todos somos absolutamente indispensáveis. É urgente dinamizar iniciativas que envolvam os cidadãos numa causa que é de instituições, de entidades governamentais, de agentes formais e informais, que é de todos. É das empresas, é dos governos, é da sociedade civil, porque, a verdade é que esta crise veio provar-nos que, à semelhança da Covid-19, este é um vírus ao qual ninguém está imune: centenas de famílias viram a vida do avesso em apenas um suspiro e a cura continua sem estar garantida ao nosso alcance. E a esperança não pode perder-se nunca.

Este artigo foi escrito no âmbito do lançamento da iniciativa #JUNTOS, da Danone Portugal.