1. Quando Benjamin Franklin abandonou em 1785 o posto de embaixador dos Estados Unidos em França, o rei Luis XVI quis mostrar-lhe todo o seu apreço. Indo muito além dos tradicionais presentes para os diplomatas que estavam de saída, ofereceu-lhe uma luxuosa caixa de rapé com mais de 408 diamantes incrustados à volta de um pequeno retrato do próprio rei (1). O valor do presente era cinco vezes superior ao dito presente ‘normal’. Apesar de ter consciência que se tratava de um presente de cortesia, Franklin, contudo, teve de pedir autorização ao Congresso norte-americano para poder aceitar o mesmo —  o que foi concedido, após um debate acesso. É que um artigo da Confederação (a lei máxima que precedeu a Constituição dos Estados Unidos) proibia expressamente a aceitação de presentes de potências estrangeiras — uma espécie de primeira norma anti-corrupção dos Estados Unidos que acabou por passar para a Constituição e ainda hoje vigora ao ponto, por exemplo, de impedir que Donald Trump possa lucrar com a presidência.

Aquela norma constitucional acabou por inspirar toda uma arquitetura jurídica que visa impedir qualquer tipo de conflito de interesses e o abuso dos poderes públicos.

Vem isto a propósito de José Sócrates e de mais uma trapalhada com a forma como financia o seu estilo de vida. Desta vez não está em causa o aluguer de uma casa que lhe levava quase todo o único rendimento oficial que tem (a subvenção de primeiro-ministro paga pelo Estado: 2.372 euros) mas sim a utilização gratuita (a custo zero, mesmo) de um andar de luxo na Ericeira com vista para o mar.

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