«O outono é a estação da alma», escreveu Virginia Woolf. Tinha razão, a chegada do outono traz consigo uma magnífica mudança de cores que nos deixa encantados. Do mesmo modo, mas sem romantismos, o outono traz também bactérias e vírus que se propagam depressa e são muito contagiosos.

«O que importa uma mera constipação», poder-se-á pensar, «uma minúscula bactéria não nos vai matar». Cuidado, talvez esteja na hora de reavaliar as suas suposições, pois algumas destas bactérias já adquiriram superpoderes: as nossas armas de contra-ataque, os antibióticos, deixam de surtir efeito devido ao aumento das bactérias resistentes aos agentes antimicrobianos, as chamadas «superbactérias».

A nível mundial, 700 000 mortes por ano devem-se a infeções resultantes da resistência antimicrobiana, o que equivale às mortes causadas por todas as outras doenças infecciosas que constituem ameaças mundiais. Muitas vezes, a população mais frágil é a mais afetada: recém-nascidos, crianças e idosos. Assim, em sociedades que se orgulham de cuidar dos mais vulneráveis, como a UE e o Japão, não podemos ser complacentes com a resistência antimicrobiana. Chegou o momento de agir; esta luta não tolera mais atrasos.

Os compromissos assumidos na reunião dos ministros da Saúde do G20 em Ocaiama têm de ser respeitados. Sabemos que a resistência antimicrobiana é um problema multifacetado. Os ministros da Saúde sozinhos nunca resolverão a questão. As ações devem ser tomadas com base no conceito de «Uma Só Saúde», ou seja, incidindo tanto na saúde humana e animal como no ambiente.

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No Japão, lançou-se em 2016 um plano de ação nacional e temos vindo a constatar a importância de uma abordagem multissetorial. Entre 2013 e 2018, o Japão reduziu em cerca de 11 % a utilização de agentes antimicrobianos nos seres humanos, em resultado de vários esforços, como a publicação de orientações sobre a utilização prudente e o incentivo aos pediatras para evitarem a prescrição desnecessária de antibióticos. Além disso, vários países asiáticos introduziram o sistema de vigilância para a deteção precoce de infeções hospitalares resistentes a agentes antimicrobianos.

A nível da UE, o Plano de Ação «Uma Só Saúde» contra a Resistência aos Agentes Antimicrobianos, que está já a produzir resultados, proporciona um quadro de ação para reduzir o surgimento e a propagação da resistência antimicrobiana. A nova legislação da UE sobre medicamentos veterinários e alimentos medicamentosos para animais contém mais medidas para combater a resistência antimicrobiana. Orientações da UE adotadas em 2017 asseguram a utilização prudente de agentes antimicrobianos na medicina humana, à semelhança das adotadas em 2015 para a medicina veterinária.

Uma condição essencial para vencer a resistência antimicrobiana é simples: só devemos utilizar antibióticos quando for necessário. Neste sentido, as vacinas, os diagnósticos melhorados ou as terapias alternativas podem ajudar. Quando nos vacinamos, reduzimos a probabilidade de contrair infeções e, portanto, de recorrer a antibióticos. Hoje, unimos esforços porque a resistência antimicrobiana é um problema mundial. As bactérias não conhecem fronteiras e não requerem vistos. Apelamos ao reforço dos quadros internacionais. As consequências da inação sobre a resistência antimicrobiana podem ser devastadoras: até 2050, poderá haver 10 milhões de mortes por ano e perdas no valor de 100 biliões de euros para a economia mundial. Assim, a promoção de parcerias globais, como a que existe entre o Japão e a UE, será cada vez mais importante para salvaguardar o nosso futuro.

Ao assinalar a Semana Mundial de Sensibilização para os Antibióticos de 2019, a UE e o Japão reafirmam o compromisso de fazer o possível para reduzir a resistência antimicrobiana e preparar as gerações futuras para se protegerem contra infeções incuráveis causadas por superbactérias.