Igualdade de género, diversidade e inclusão, felicidade no trabalho são termos que fizeram parte do nosso vocabulário no ano de 2022 e que transitam agora para 2023. Adicionalmente, com um ambiente empresarial cada vez mais competitivo e com oferta de trabalhadores altamente especializados, vemos a crescente importância na compreensão e gestão destas expressões no nosso dia a dia.

Expressões essas, associadas aos recursos humanos, o bem mais precioso de qualquer empresa. Por esta altura poderá estar a pensar noutras situações que considera mais relevantes, mas pensemos: será que sem pessoas é possível algum negócio prosperar? Muito provavelmente não! A dedicação dos profissionais, o que os motiva e que consideram ser o seu propósito num ambiente profissional, faz com que qualquer desafio seja mais facilmente ultrapassado. Todavia, temos de considerar outro aspeto importante. Não se sentindo incluídos, reconhecidos e felizes, estes colaboradores mostrarão todas as suas qualidades e atingirão todos os objetivos propostos? Provavelmente também não!

Assim, como nos podem os dados ajudar? Olhemos para a quantidade de dados gerados diariamente e guardados em bases de dados empresariais. Data de nascimento, género, educação, cargo, salários, entre muitos outros, são indicadores que permitem fazer análises simples e complexas para perceber o estado das nossas organizações relativamente aos seus profissionais. Fará sentido estarem parados sem que lhes seja dado um propósito maior do que aquele para que foram recolhidos? O potencial que os dados têm é enorme. Já existem inúmeras análises que nos permitem avaliar temas simples como o número de funcionários na organização, por localizações ou ainda departamentos, mas podemos ir um passo mais adiante e explorar análises que permitam às empresas reinventarem-se.

Tomemos um exemplo bastante simples e relevante no contexto profissional atual. O número de colaboradores do sexo feminino tem de ser avaliado para termos empresas diversificadas e preparadas para os desafios vindouros, principalmente na área do “software” onde, segundo o Global Gender Gap Report de 2022, a diferença entre o número de homens e mulheres na área da Informação e Tecnologia continua demasiado elevada. Podem ser feitas análises meramente descritivas do que se passa no contexto laboral, mas o que ainda não vi foi serem implementados modelos para prever o crescimento de mulheres nas nossas empresas. No entanto, para além de recrutar é, acima de tudo, importante manter os colaboradores e usar os dados para reter, não só mulheres, mas todos as mais valias que no dia a dia contribuem para o crescimento dos negócios.

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Mas é agora que surge a principal questão: estamos a falar de pessoas, será que vale tudo? A meu ver, não. Efetivamente, existem muitas limitações legítimas ao potencial existente, nomeadamente em termos de proteção de dados. A proteção de dados é, de facto, um dos tópicos mais relevantes nos dias que correm e ainda bem que o é. É importante regular o seu propósito, como são recolhidos, como são utilizados, mas também é verdade que sem interpretar os dados de hoje não nos é possível construir sociedades e ambientes empresariais mais inclusivos e equitativos no futuro.

Assim, dados para que vos quero? Quero-vos para que se criem ferramentas que facilitem a tomada de decisão e que ajude a basear ações e sugestões em factos e dados concretos. Quero-vos para melhorar a satisfação nas organizações e, acima de tudo, quero-vos para que sejam tomados os passos certos e necessários de forma a criar um ambiente preparado para os desafios de 2023.

Catarina Neves, Data ScienceTeamLeader na BoschSecuritySystems

O Observador associa-se à comunidade Portuguese Women in Tech para dar voz às mulheres que compõem o ecossistema tecnológico português. O artigo representa a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da comunidade.