Foi há quarenta anos que os The Buggles vaticinaram que “Video Killed The Radio Star”, tema deu corpo ao primeiro videoclipe que passou na história da MTV. O que a banda de pop rock inglesa não sabia é que, mais tarde, a Rádio iria ter uma capacidade de reinvenção e agilidade sem precedentes, não dando tréguas à Era da Imagem e, hoje, à Era Digital. Esta mudança de paradigma está precisamente a acontecer no mercado de trabalho e hoje, mais do que nunca, este está a preparar-se (ou devia preparar-se) para uma intensa cultura de mobilidade, que terá efeitos e consequências também no espaço físico.

Na verdade, Portugal foi um dos primeiros países europeus a consagrar, em 2003, o teletrabalho no código laboral, mas o surto de Covid-19 veio acelerar esta realidade e, pela primeira vez na História, milhares de portugueses trabalham a partir de casa, empurrando as empresas para uma rápida adaptação. Uma agilidade bem sucedida para as companhias que já se preparavam, não para uma pandemia que ninguém vislumbrava, mas para as tendências futuras do workplace e para a flexibilidade do trabalho, que são incontornáveis. As que não estavam preparadas e eram mais céticas, vão certamente reinventar-se e largar as amarras da rigidez e do hardware para assegurar os seus negócios e, acima de tudo, os seus talentos.

Se o plano de desconfinamento for bem sucedido nas próximas semanas, tudo indica que haverá um regresso ao mercado de escritórios em Portugal a partir do dia 1 de Junho. A primeira segunda feira deste mês será, pela primeira vez na história do trabalho, uma Happy Monday em que equipas em espelho e/ou 50-50% vão voltar a reencontrar-se de forma gradual e, acima de tudo, as empresas vão voltar a sentir um ânimo e uma confiança tremendos nos seus negócios e dia-a-dia.

A curto prazo, é mais provável que as intervenções sejam operacionais e não orientadas para o design, tendo a higiene, segurança e proteção como palavras de ordem. Os edifícios, com francamente menos pessoas, limitarão a partilha de mesas que deixarão de estar lado-a-lado, para fazer jus ao distanciamento social. Um único ponto de entrada, combinado com imagens térmicas ou a medição de temperatura poderão ser também medidas predominantes, mas a higienização será primordial em áreas de trabalho em que os funcionários podem estar mais expostos, como comodidades compartilhadas, salas de reuniões e conferências, casas de banho, elevadores.

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Prevê-se ainda uma maior procura de edifícios com características de sustentabilidade, qualidade do ar, sistemas de ventilação e bem-estar, prevendo-se um aumento de certificações LEED e WELL. Com o passar do tempo, as organizações farão investimentos em elementos “sem toque”, convertendo o dia do colaborador numa jornada mais digital.

Mas, de acordo com os nossos estudos, as mudanças mais interessantes provavelmente estarão relacionadas com os recursos humanos e a redefinição de quem poderá ser um recurso permanente em teletrabalho, contudo, isso não significa que esses funcionários nunca retornem ao escritório. A interação sempre foi crítica na atividade empresarial para o desenvolvimento de relacionamentos, construção de confiança, promoção de uma cultura de maior colaboração, idealização e inovação.

Irá esta realidade levar à redução de metros quadrados na atividade empresarial? Na CBRE acreditamos que não. O teletrabalho, como benefício para empresas e colaboradores, irá aumentar mas as companhias, mais do que nunca, precisam dos seus metros quadrados. Numa primeira fase, para responder aos desafios do distanciamento social e, numa segunda fase, para a sua reconversão e adaptação a uma nova realidade que já está à porta.

Os “novos escritórios” vão tornar-se ainda mais num lugar de experiência, onde os colaboradores vão desejar trabalhar e sentir que a colaboração flui melhor num espaço comum. As empresas deverão reinventar os seus espaços para acolher a aproximação das equipas, a criatividade e cooperação entre elas, criando verdadeiros experience hubs, onde é possível encontrar zonas com diferentes destinos, quer de trabalho, de lazer, de bem estar e de cocriação, tudo para que se torne um ativo atrativo e natural, que gere empatia, compromisso e cultura corporativas.

A reconversão dos escritórios vai transformar as suas sedes em verdadeiros Company Clubs, em que os colaboradores, trabalhando remotamente ou não, são club members, sendo certo que é lá o local de preferência para se encontrarem. Sim, esta pandemia acelerou teletrabalho e esta será uma realidade que irá marcar a atividade empresarial nos próximos anos mas, tal como o Video, o teletrabalho will not kill the workplace star.