Os meus colegas escreveram textos fantásticos sobre os problemas económicos e sociais que existem não só em Portugal, mas também a nível internacional. No entanto, e enquanto indivíduos, controlamos apenas a nossa vida e o nosso trabalho. Quanto melhor for o nosso desempenho profissional, mais estável será o nosso trabalho e melhor vamos navegar num mundo que parece ser cada vez mais competitivo e incerto. Existem três aspetos importantes que podem ajudá-lo a melhorar o seu desempenho profissional.

Para garantir mais sucesso no trabalho terá que se concentrar totalmente nas suas tarefas, e deixar-se envolver completamente pelo que está a fazer. O psicólogo Mihalyi Csikszentmihalyi introduziu o conceito de “flow”, que procura traduzir o estado em que uma pessoa está totalmente envolvida e empenhada na tarefa que tem em mãos. As pessoas perdem a noção do tempo quando estão absorvidas numa tarefa, e geralmente mais tarde admitem ter gostado de a fazer. Isto é algo que acontece com mais frequência quando um profissional tem competências que se encaixam totalmente no trabalho que está a fazer. Pelo facto de se deixar envolver por uma tarefa verdadeiramente desafiadora (apesar de os grandes desafios serem difíceis de ultrapassar de uma forma perfeita), as distrações (como o email não urgente) acabam por ser minimizadas. Escrever num diário ou responder repetidamente à pergunta “Quem sou eu?” pode ajudar as pessoas a perceberem a sua identidade, e a encontrarem um trabalho que se ajuste à sua personalidade e que permita mais experiências de “flow”. O trabalho pode ser divertido.

Um indivíduo pode também melhorar o seu desempenho profissional se sentir que é útil. As pessoas sentem-se motivadas pelo desejo de ajudarem outras pessoas, e por fazerem parte de algo maior que elas. Um estudo feito por Adam Grant, na Wharton School, revelou que quando um trabalhador de um call-center para angariação de fundos interage durante cinco minutos com alguém que irá beneficiar do trabalho que está a realizar, tende a duplicar o seu desempenho no que diz respeito às horas que passa ao telefone e ao dinheiro que consegue angariar no mês seguinte. Outras pessoas, como os tratadores que trabalham no jardim zoológico, as enfermeiras e os bombeiros, aceitam habitualmente um ordenado mais baixo e horários de trabalho incomuns para fazerem um trabalho que faz do Mundo um lugar melhor. Independentemente de terem o emprego com que sempre sonharam, ou da ideia que têm sobre o trabalho que desempenham, o significado e o peso do que fazem são uma força muito poderosa.

O maior sucesso no local de trabalho passa também pela tomada de boas decisões. Esta questão está diretamente ligada à informação que cada pessoa consegue reunir sobre as várias opções de escolha disponíveis, e sobre os riscos inerentes. Infelizmente, as pessoas tendem a ser demasiado confiantes e acabam por encontrar razões que justifiquem a opinião inicial. Pegando num exemplo extremo: o governo de George W. Bush previu que a Guerra no Iraque custaria cerca de 60 mil milhões de dólares, no entanto, as mais recentes projeções apontam para um número 31 vezes superior, cerca de 1,9 triliões de dólares. Isto, para além das centenas de milhares de mortes. Testar o parecer inicial, tentar encontrar possíveis falhas e pedir um feedback negativo a outras pessoas pode revelar-se algo muito útil. Ou respeitosamente dizer a alguém como a sua ideia pode ser melhorada, em vez de optar por dizer que a ideia é já perfeita (de uma forma desonesta), só para evitar conflitos.

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Tanto as empresas como as pessoas querem melhorar o seu desempenho. Em vez de esperar pela intervenção do gestor ou da organização, por que não adotar algumas das dicas acima mencionadas e ajustá-las à sua realidade profissional? Cultive o “flow”. Descubra o sentido e o valor do trabalho que faz. Procure ativamente os seus erros. Dessa forma, não só vai tornar-se mais produtivo, como vai eventualmente perceber que até gosta do seu trabalho e de interagir mais com as pessoas durante o processo. Poderá nem sempre conseguir mudar a forma como a sua organização funciona, mas estas são dicas cientificamente testadas que poderão ajudá-lo a melhorar a forma como trabalha.

Espero que estas ideias tenham sido úteis. Estou interessado em realizar alguns estudos em empresas para perceber de que forma os trabalhadores se podem sentir melhor e trabalhar melhor. Se estiver interessado em trabalhar conjuntamente neste projeto, envie-me um email para Hafenbrack@ucp.pt.

Nota: Um agradecimento especial a David Patient pelos comentários e sugestões verdadeiramente úteis.

Andrew Hafenbrack é professor auxiliar na Católica Lisbon School of Business & Economics.