Sendo eu um estudante universitário de História, acho importante dar uma contextualização histórica sobre o que foi a Direita ao longo destes quase 50 anos de democracia. Olhando para o caso português, a direita em Portugal após o 25 de Abril, governou em 3 ocasiões. O primeiro governo fora o da primeira “Aliança Democrática” entre PSD, CDS-PP e o PPM. Este governo, chefiado por Francisco Sá Carneiro que mais tarde fora vítima do desastre de Camarate, caracterizou-se pela estabilidade económica e a tentativa de implementar reformas económicas e sociais. Francisco Sá Carneiro enfatizou medidas para modernizar a economia, promover o investimento e combater a inflação. Na política externa, procurou fortalecer a posição de Portugal na CEE e abriu caminho para a futura entrada ao que hoje chamamos de “União Europeia”.

No segundo governo de direita em Portugal, quem o liderou foi Aníbal Cavaco Silva com o apoio do CDS-PP. Com duração de 10 anos (1985-1995), este governo é um dos mais históricos da 3ª República, pois é nele que temos um enorme programa de modernização e desenvolvimento que se traduz após a entrada na CEE. O então Primeiro Ministro, Cavaco Silva, implementou programas de modernização e desenvolvimento com especial preocupação nas infraestruturas, educação e inovação tecnológica. Para os leitores mais à direita e tendencionalmente mais conservadores, estas políticas puderam ser questionáveis, mas, isso é um debate para outra altura. Para sumarizar este governo, a integração plena na União Europeia consolidou reformas que alinharam o país com as práticas europeias. O terceiro e último governo de direita em Portugal foi o de Pedro Passos Coelho, líder do PSD em coligação do CDS-PP de Paulo Portas, durou uma legislatura apenas de 2011 a 2015 e é marcado pela intervenção da troika. Obrigado a cumprir um plano de recuperação económica, Pedro Passos Coelho implementou medidas de austeridade de modo a dar resposta à crise em que Portugal se encontrava, incluindo cortes nas pensões, o aumento dos impostos e as privatizações de várias empresas estatais. Sem dúvida que este governo é o mais polémico, não só pelo contexto antecedido pelo PS, como pelas medidas impostas. Acabada esta pequena abordagem historiográfica, acho que é importante referir que um dos fatores que levou ao desaparecimento da direita identitária comum dos anos 80 e 90, foi o governo de Pedro Passos Coelho. A direita após a geringonça, não se conseguiu dissociar do rótulo (mérito da esquerda) “roubar aos pobres para dar aos ricos” e também devido ao surgimento de novas forças políticas que dividiram o eleitorado por esses mesmos. Isto traduziu-se numa nova realidade política onde a divisão da direita, permitiu à esquerda cimentar-se no poder como vimos ao longo destas 3 legislaturas desde 2015.

Posto isto, acho que é fundamental para a direita conseguir voltar a governar, a capacidade de mostrar que é uma alternativa válida aos 8 anos de governos socialistas. Isso traduz-se nas respostas aos problemas reais que a nossa sociedade vive. Desde habitação, saúde, mobilidade ou até na educação. A direita não pode ter receio em realizar reformas, para isso é preciso a confiança dos portugueses e verdade seja dita, uma reforma bem-sucedida, não se verá os louros da mesma numa legislatura, é um trabalho a longo prazo. Na teoria, não seria muito difícil a direita governar em Portugal uma vez que o Partido Socialista nestes últimos 8 anos, para além de não ter sido capaz de fazer reformas importantes, tem as principais áreas de intervenção do estado num total desnorteio e conseguiu impor aos portugueses uma qualidade de vida altamente questionável comparando com os recentes tempos da Troika. Deveria ser natural para a direita conseguir ser a escolha nos boletins de voto a partir do momento em que o Partido Socialista coloca uma carga fiscal superior que nos tempos de Pedro Passos Coelho chegando quase aos 36% segundo o Eurostat. O maior desafio aqui é conseguir contrariar a estagnação vivida em Portugal. Acredito que uma direita personalista e sem medo de assumir os receios dos outros será capaz de dar resposta às interrogações dos portugueses. Primeiro com programas reais tanto no cenário social como no cenário económico. Para a direita ganhar novamente a confiança dos portugueses, é preciso ter um programa macroeconómico em convergência com as contas do país. Desde o início, a direita deverá adotar as políticas que o Partido Socialista adotou nestes últimos anos, a política das “contas certas”. Portugal não está em posição de fazer grandes investimentos senão não haveria tanta passividade em recuperar a carreira dos professores, a carreira dos médicos e enfermeiros. A direita liderada pela Aliança Democrática tem de se apresentar como capaz de atrair o investimento estrangeiro, valorizar os jovens, mantê-los cá, e reformar todos os setores deficitários da nossa sociedade. Num momento em que a esquerda detém o poder, a direita deve destacar-se pela transparência, apresentando-se como uma alternativa genuína, e deve propor mudanças corajosas e necessárias. A capacidade de comunicar de forma clara as propostas de reforma, mostrando onde e como serão implementadas, é fundamental para estabelecer a confiança dos eleitores.

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