Nos últimos dias, temos testemunhado uma onda de manifestações, actos de vandalismo e invasões que em nada dignificam as nossas instituições académicas, assim como a posição do nosso país perante a comunidade académica internacional. Como estudante do ensino superior, sinto a necessidade de expressar-me em nome da maioria silenciosa que, por receio  de represálias ou perseguições, não se opõe a esta descontrolada onda de acções promovida  pelo “Movimento Greve Climática Estudantil”. Se considerarmos que monopolizar as causas da crise académica de 62 é motivo suficiente para questionar a presença da PSP nas faculdades, a destruição do património do estado, a interrupção das aulas e as agressões a ministros e deputados da nação, algo está profundamente errado.

Não estarei a mentir quando digo que esta “Causa” não abrange todos os estudantes, mas sim uma pequena percentagem associada a determinados partidos na cena nacional. Ao observarmos directamente os representantes de cada uma dessas organizações, tornam-se  evidentes as claras tendências partidárias daqueles que afirmam representar toda a comunidade estudantil. Agora, coloco uma questão: há estudantes com maior valor do que  outros? Quando vemos estudantes barricarem-se dentro de universidades ou invadirem salas  de aula, impedindo o seu funcionamento normal, surge a impressão de que não existe uma comunidade estudantil, mas sim várias.

Eu, como estudante, assim como todos os outros, pago as minhas propinas e exijo que me permitam frequentar as aulas sem sons “folclore” a criticar o governo por não adoptar medidas em relação à transição climática. E as soluções? Não é a pintar as paredes das faculdades, a partir vidros e a utilizar tochas de fumo poluentes que elas vão aparecer.  Assim como é direito dos meus colegas manifestarem-se (cumprindo as regras estabelecidas), também é meu direito ter acesso ao conhecimento e à erudição que os meus professores  ensinam, tanto como às minhas avaliações, que foram tantas vezes prejudicadas por estes  movimentos. Mais importante que os nossos direitos é fulcral estarmos cientes de que, para tal acontecer, existem deveres a serem cumpridos.

Não esqueçamos que, nos últimos dias, a polícia foi frequentemente chamada às faculdades, não para lidar com a crise estudantil, mas sim para restaurar a ordem pública. A polícia de hoje não é a de 1962. A intervenção da PSP visa preservar a normalidade, tal como aconteceu na passada sexta-feira na reitoria da Universidade de Lisboa, e não silenciar aqueles que pretendiam celebrar o “Dia do Estudante”.

Será justa toda esta “luta” e o que ela acarreta num país que  contribui tão pouco para a poluição do nosso planeta? Dos 10 países que mais poluem o  planeta, apenas um pertence à União Europeia, que é a Alemanha, estando a China em primeiro lugar, seguida dos Estados Unidos e, para completar o pódio, a Índia. Vale ressaltar que a União Europeia reduziu as suas emissões per capita de dióxido de carbono em 29% desde 1990.

Aos meus colegas do ensino superior envolvidos nesta facção mais fervorosa desses movimentos, sugiro que, para ganharem respeito e simpatia, repensem urgentemente novas formas de se fazerem ouvir sem prejudicar aqueles que nada fazem de mal. Existem regras, e estas devem ser cumpridas. Esse tipo de comportamento ocorre devido ao total sentimento de impunidade que prevalece na comunidade académica atualmente. Quando menosprezamos  aqueles que nos educam e proporcionam a oportunidade de ascender no elevador social, ainda que tenhamos a sensação de que está avariado, a causa estudantil perde a sua direcção, desviando-se muitas vezes por caminhos que nem nós sabemos quais são. Admito que, para sermos ouvidos, às vezes é necessário agir contra a corrente, mas ultrapassar os limites impostos pela lei e pela nossa Constituição representa uma significativa distância entre a busca por mudanças e a preservação da ordem essencial para a construção de uma sociedade justa.

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