Escolhas são escolhas… E as deste momento não serão as daqui a dez minutos… Porque há muita música e gosto de ir descobrindo as novas ideias, ao mesmo tempo que reencontro memórias e cruzo referências. Escolhi cinco (porque me pedem cinco). Mais recentes que antigas, porque nunca se fez tanta e tão boa música como hoje. Há, mesmo assim, séculos de sons. E por estas escolhas, mesmo nascidas nos últimos 40 anos, há ecos que escutam mais atrás e, em todas, um desejo em olhar adiante. São, talvez salvo em Bowie, um desafio de descoberta para muitos. Porque já há por aí rádios a mais a repetir sempre as mesmas canções. Ordenei-as cronologicamente. Aqui vão:

1. Banda do Casaco, É Triste Não Saber ler, 1976

A Banda do Casaco é a mais interessante “banda” da história da música popular portuguesa. Nesta canção do álbum ‘Coisas do Arco da Velha’ juntam-se ecos de vivências remotas com uma música que vivia então a descoberta de uma nova maneira de cenografar as canções. O prazer do som e a excelência da palavra.

https://www.youtube.com/watch?v=XMvbfiGwMio

2. Philip Glass, Liquid Days, 1986

Pessoalmente, este foi o disco que me fez sair da geologia (que estudava) e rumar a uma outra vida profissional (como jornalista e radialista tendo a música no tutano do trabalho). É o compositor que mais admiro, num disco que junta nomes como David Byrne, Paul Simon ou Suzanne Vega e nos diz que não há barreiras entre géneros musicais.

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https://www.youtube.com/watch?v=JqrIvXMioVo

3. Max Richter, November, 2001

Gosto sobretudo de acompanhar o que está a acontecer no plano da música orquestral do nosso tempo. Salvo algumas exceções, é aí que tem surgido alguma da melhor música que tenho ouvido desde o ano 2000. O compositor alemão Max Richter estabelece aqui uma ponte entre as eletrónicas e a orquestra, ajudando a definir o que é o som da música do século XXI.

4. David Bowie, Where Are We Now?, 2013

Na música pop/rock não há figura como David Bowie. Podia, também, falar aqui da excelência das obras de um David Sylvian, uns Pet Shop Boys ou Nick Drake. Mas falemos de Bowie, o homem que sabe escutar, assimilar e reinventar ideias. Esteve ausente dez anos e regressou no ano passado com esta canção que fala de memórias. Mas que lhe abriu portas a um novo futuro que, afinal, não era feito de silêncio.

5. Perfume Genius, Queen, 2014

O ano em curso tinha de estar entre estas cinco escolhas. E dos muitos discos que já saíram este ano – e houve excelentes edições por Beck, St Vincent, Aphex Twin ou Michael Tilson Thomas (ao som de ‘West Side Story’) – o melhor de todos é, até ver, o recentemente lançado ‘Too Bright’, de Perfume Genius. Potente afirmação de um grande autor do nosso tempo.