A economia portuguesa cresceu 0,4% no primeiro trimestre, em linha com a variação também em cadeia que se tinha registado no quarto trimestre do ano passado. O valor, que consta da estimativa rápida divulgada quarta-feira pelo INE, ficou abaixo do esperado pela maioria dos economistas, mas o INE explica que há razões técnicas que podem ajudar a justificar o resultado. Economistas querem esperar pela divulgação dos números mais detalhados mas, para já, mantêm a confiança de que haverá uma aceleração do crescimento e que as previsões otimistas irão cumprir-se.

“Estávamos à espera de um número melhor, em torno de 0,9% no trimestre, e cerca de 2% na comparação homólogo”, afirma Carlos Andrade, economista-chefe do Novo Banco, em declarações ao Observador. “Temos de esperar pelos detalhes das componentes da despesa [que saem no dia 29], para sabermos exactamente as razões desta diferença. Mas, entre outras, uma explicação possível, de acordo com a nota do INE, terá a ver com alterações [técnicas] nos deflatores do comércio externo], nota o economista.

Olhando para os números, tanto Carlos Andrade, do Novo Banco, como Rui Bernandes Serra, economista-chefe do Montepio, destacam a importância que a procura interna terá tido para o crescimento do PIB no primeiro trimestre. Apoiado nesse factor, e nas indicações “muito fortes” dadas pelos últimos dados sobre a confiança das empresas e dos consumidores, o economista-chefe do Montepio opta, para já, por manter inalterada a sua previsão de um crescimento de 1,7% da riqueza nacional em todo o ano de 2015. Os riscos para essa previsão estão, diz o economista, “equilibrados” entre riscos que podem resultar num crescimento mais baixo ou mais elevado, pelo que a opção, para já, é manter a projeção.

Carlos Andrade, do Novo Banco, destaca que “a queda do preço do petróleo tem suportado o rendimento real e o poder de compra dos consumidores, ao mesmo tempo que a inflação baixa e a política expansionista do BCE têm permitido que as taxas de juro se mantenham em níveis próximos de zero, o que também suporta o rendimento disponível das famílias”.

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“Em 2015, as expectativas de crescimento beneficiam ainda de uma política orçamental menos restritiva do que nos anos anteriores”, acrescenta Carlos Andrade, salientando, também, o “bom desempenho (e perspetivas) nas exportações, e a própria recuperação do consumo privado, que suportam alguma recuperação do investimento das empresas”. As exportações para Espanha e Reino Unido e o desempenho “muito favorável” no setor do turismo (“que se tem mantido mesmo para lá dos picos sazonais habituais) são outros fatores importantes para a economia portuguesa e que têm compensado a descida das exportações para Angola.

O Novo Banco tem, para o conjunto de 2015, uma previsão de crescimento em torno de 1,6%, com alguma probabilidade de revisão em alta. “Mas os números agora divulgados validam de alguma forma a nossa opção por alguma paciência e cautela nesta revisão”. Sobretudo porque “a questão da Grécia é um risco negativo a ter em conta, como poderão eventualmente ser, mais tarde, as eleições em Espanha e Portugal, no sentido em que poderão, num cenário mais negativo, gerar alguma incerteza e instabilidade política”.

“Aliás, como se vê agora no caso da Grécia, que voltou a entrar em recessão, a confiança numa economia pode ser facilmente perdida, com impactos reais na actividade”, remata Carlos Andrade.