Os ataques vêm de todos os lados, mas sobretudo da direita. A ministra da Educação francesa está a ser alvo de duras críticas depois de ter anunciado uma reforma no setor. O primeiro-ministro, Manuel Valls, já veio interceder a favor de Najat Vallaud-Belkacem, sublinhando que a escola francesa é das menos igualitárias da Europa. E que, afinal de contas, é isso que a ministra de 37 anos, marroquina e muçulmana, pretende transformar.
“Incompetente”, já classificou o líder da oposição Nicolas Sarkozy, e “greve” declararam os cinco sindicatos que respresentam 80% dos professores, noticia o El Pais. No cerne da discórdia, o estudo das origens e da expansão do islamismo. A ministra, que chegou ao governo há nove meses, é acusada de desvalorizar o cristianimo e o judaísmo. O governo já explicou que esta é uma falsa interpretação: atualmente os alunos de 12 anos já aprendem sobre esta matéria e o que se pretende é que o cristianismo medieval seja uma matéria optativa, mas mantém-se o ensino do cristianismo e do judaísmo.
French Education Minister Najat Vallaud Belkacem faces strikes from the left and 'prejudice' from the right http://t.co/Wb1B90kNtg
— Franciapolitika – Eszter P. SOÓS (@sooseszter) May 18, 2015
Além do estudo do islamismo, há outras matérias a alimentar a ira dos intelectuais de direita e até de membros do próprio Partido Socialista. O Observador explica-lhe em seis breves pontos em que mais consiste esta reforma:
- Aulas de Alemão – O projeto do Governo passa por introduzir uma segunda língua aos 12 anos, deixando de haver segunda língua no ensino secundário.
- Menos Latim e Grego – Atualmente as chamadas “línguas mortas” estudam-se entre os 12 e 14 anos e só 20% dos alunos seguem o seu estudo. Assim, reduz-se o ensino destas matérias, incluindo-o num tema que se chamará “Línguas e culturas da Antiguidade” (tradução livre). Para fazer face às críticas, aplia-se o ensino do francês com os contributos destas línguas.
- Maior autonomia das escolas – Cada escola será livre para escolher quais as modalidades de ensino que pretende implementar nos 20% do tempo escolar livre.
- Classes interdisciplinares – Podem existir aulas complementares lecionadas por professores de vários disciplinas que se complementem, favorecendo e motivando o debate.
- Acompanhamento personalizado – durante três horas semanais (aos onze anos) e uma hora semanal nos anos seguintes.
- Criação de 4 mil novos postos de trabalho para professores para conseguir grupos mais pequenos de alunos.
O primeiro-ministro Manuel Valls já veio defender publicamente a ministra da Educação, sublinhando o facto de o tema da Educação ser em França sempre polémico e trazer ao de cima as principais diferenças entre esquerda e a direita, como dizia aliás o Libération. O primeiro-ministro já falou na necessidade de debater o tema da reforma escolar, de forma a tornar a escola igual para todos, e enalteceu a coragem da primeira mulher ministra da Educação em França.
“Eu ouço todas as críticas. Elas surpreendem-me (…). O debate não está entre o elitismo e o igualitarismo. Está entre os que pensam que só alguns conseguem, enquanto os outros estão condenados ao fracasso, e aquele que pensam que todos podem conseguir através do mérito. Entre uma visão conservadora da escola e uma visão realmente republicana, exigente, meritrocrata e generosa”, defende Manuel Valls.
A própria ministra já manifestou, via Twitter, estar a sentir-se vítima de homofobia.
L'homophobie est un délit et n'a sa place nulle part.
École @EducationFrance et @sup_recherche mobilisés dans ce combat. #17mai— Najat Vallaud-Belkacem (@najatvb) May 17, 2015