A razão de ser deste debate era só uma: António Costa tinha de ganhar. Mas Costa, como certos artistas, não gosta de facilidades. Por isso, tornou as coisas ainda mais difíceis para si próprio, ao começar com a negação de uma série de evidências: qualquer governo teria feito crescer a riqueza sob o programa de ajustamento; foi o PSD quem chamou a troika; para viabilizar a segurança social, basta manter as contribuições. Passos foi, como sempre, muito explicativo e não falou do que iria fazer, mas pôde desmontar quase tudo: o decréscimo de riqueza em Portugal foi menor do que em outros países sujeitos a ajustamento; foi o PS quem chamou a troika, porque o país não tinha financiamento, e por isso também o PS, até 2011, cortou salários e aumentou impostos; até o PS admite diversificar as fontes de financiamento da segurança social. Pior ainda: Costa não se conseguiu separar claramente do governo em pontos em que fez acusações estridentes: acusou Passos de gastar milhões a subsidiar estágios, e diz depois que vai pagar a inserção de jovens nas empresas; acusou o governo de plafonamento da segurança social, e depois não conseguiu desfazer a impressão de que também terá a sua versão de plafonamento.  No fim, deixou Passos aparecer como mais disponível para o diálogo. Costa até sabe o que é mais importante: reconstruir a confiança dos cidadãos nos políticos. Mas como é que se pode fazer isso resistindo à realidade?

*historiador

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