A Agência Mundial de Antidopagem (AMA) defende que Associação Internacional das Federações de Atletismo (em inglês (IAAF) expulse a Federação de Atletismo Russa de todas as competições da modalidade por práticas de dopagem.

Esta conclusão foi retirada de um relatório de uma comissão independente promovida pela AMA, que investigou o assunto durante 10 meses. É recomendada também a retirada da acreditação ao laboratório de antidopagem de Moscovo (que foi responsável pelos testes anti-doping dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2014, que decorreram na cidade de Socchi), e a suspensão perpétua de cinco atletas e cinco treinadores.

No relatório lê-se que os Jogos Olímpicos de Londres em 2012 foram “sabotados” pela “inércia generalizada” do Governo e Federação russa contra as suspeitas de casos de doping por parte dos seus atletas. 

Os resultados foram analisados por Dick Pound, antigo presidente da AMA, que afirmou que as conclusões revelam “uma cultura profundamente enraizada de batota a todos os níveis” no atletismo russo.

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Jogos Olímpicos de Inverno de 2014

O foco está, também, nos Jogos Olímpicos de Inverno de 2014, que decorreram em Socchi (Rússia). O relatório afirma que 1.400 amostras foram “intencionalmente” destruídas pelo laboratório de Moscovo. A comissão sugere mesmo que o ministro do Desporto da Rússia, Vitaly Mutko, deu ordens diretas para “manipular as amostras individuais”, refere o jornal The Guardian.

No relatório é sugerida ainda a existência de pagamentos ilegais feitos para ocultar resultados de testes anti-doping no evento, e de acordos feitos entre o laboratório antidopagem de Moscovo e os atletas presentes na competição, que permitiam aos últimos conhecer as datas em que lhes seriam feitas as análises ao sangue. Uma testemunha terá mesmo dito que “nos Jogos de Inverno de Socchi, de 2014, tivemos pessoas que se fizeram passar por engenheiros nos laboratórios, quando pertenciam, na realidade, aos serviços de segurança federal [russos]”.

Para além disto é acrescentado que “não há razões para acreditar que o atletismo foi o único desporto na Rússia que foi afetado”.

Governo russo: não apenas cúmplice, mas apoiante

Mas este esquema pode ter chegado ao próprio Governo. No relatório, é referido que não existem provas concretas do envolvimento governamental, mas também que “seria ingénuo concluir que estas atividades, a esta escala, pudessem ocorrer sem a aprovação explícita ou tácita das autoridades governamentais da Rússia”. E diz mais: “O que torna estas alegações ainda mais chocantes é o conhecimento de que a Federação Russa financiou diretamente as instituições, o que sugere que o governo federal [russo] não era apenas cúmplice na fraude, mas que o esquema era efetivamente apoiado pelo estado“, lê-se. 

Segundo a CNN, Dick Pound admitiu que a Rússia pode agora ficar de fora dos Jogos Olímpicos de 2016 se a recomendação da comissão for seguida: “Para os Jogos Olímpicos de 2016 a nossa recomendação é a de que a Federação russa seja suspensa”, disse. “Eles [governantes] sabiam, muito provavelmente”, acrescentou.

Interpol entra em ação

A Interpol já anunciou a abertura de uma investigação à escala mundial, na sequência da publicação do relatório da Agência Mundial Antidopagem (AMA), que recomendou a suspensão da Federação Russa de Atletismo, por práticas de doping.

A unidade de combate ao doping da Organização Internacional de Polícia Criminal respondeu favoravelmente ao apelo da AMA para iniciar uma investigação abrangente ao que qualificou de “dopagem organizada”, que diz não estar circunscrita à Rússia e ao atletismo.

As reações

A Associação Internacional das Federações de Atletismo (IAAF) já reagiu às conclusões do relatório, noticia o jornal inglês The Guardian, que cita uma declaração oficial da Associação. Na declaração lê-se que “o seu presidente [da IAAF], Sebastian Coe, tomou a decisão imediata de procurar a aprovação dos restantes conselheiros e membros da IAAF para definir as sanções aplicadas à Federação de Atletismo Russa (ARAF)”. “Estas sanções”, explica a associação, “podem incluir suspensões provisórias e definitivas e a exclusão da Federação de Atletismo Russa dos eventos futuros da IAAF”.

O presidente da Associação Internacional das Federações de Atletismo disse ainda que “este passo não foi dado de ânimo leve. Os nossos atletas, parceiros e fãs têm a minha garantia que se existiram erros na nossa organização ou nos nossos programas anti-doping corrigi-los-emos. Faremos o que for preciso para proteger os atletas [que atuam] limpos e para reconquistar a confiança no nosso desporto. A IAAF vai continuar a oferecer às autoridades policiais a nossa total cooperação na investigação em curso”, disse. 

A Rússia também já reagiu às alegações, através do principal responsável da Federação Russa, Vadim Zelechenok, que segundo o jornal The Guardian afirmou à estação R-Sport que “qualquer suspensão deve ser discutida na reunião da IAAF em novembro. Deve ser provado que quaisquer infrações foram responsabilidade da federação e não de pessoas individuais ligadas ao desporto [russo]. Deve-nos ser dada a oportunidade de limparmos os nossos nomes“, disse.

Antes, um membro do comité russo para as políticas jovens, da câmara baixa (ou câmara da plebe) do parlamento do país, Igor Ananskikh, disse que “as recomendações devem permanecer [apenas como] recomendações. Tudo isto está ligado ao facto dos atletas russos terem resultados tão bons, e alguns países não estarem satisfeitos com isso”, disse, em declarações citadas pelo jornal The New York Times.