Imagine como seria vestir um fato que o torna invisível e passar no meio de uma batalha com 10 mil soldados aos gritos. Agora imagine como seria estar no meio dessa mesma batalha, com as mesmas sensações à sua volta, mas sentado à frente da tela do seu cinema favorito. É graças a um engenheiro português que isso já é possível: Nuno Fonseca revolucionou as técnicas de som nas grandes produções de Hollywood. E se quiser sentir na pele a invenção do professor universitário basta assistir esta quinta-feira à estreia de “Batman vs. Super-Homem: O Despertar da Justiça”.

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Nuno Fonseca conversa com estudantes do ensino secundário num dia aberto da Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Leiria. Aqui, o engenheiro está a representar a licenciatura em Engenharia Informática. Imagem: Nuno Fonseca/ Facebook.

Na prática, a tecnologia inventada por Nuno Fonseca junta o útil ao agradável: não só acelera o processo de criação sonora das equipas produtoras dos filmes, como também permite que os espetadores desfrutem de uma experiência mais realista. Em conversa com o Observador, o professor do Instituto Politécnico de Leiria explicou que o software é semelhante ao que já existe na área da computação gráfica — que cria imagens para filmes de animação ou com efeitos visuais –, mas simula situações onde existem muitos sons presentes.

Voltemos à batalha para entender como funciona este programa. “Até agora, para simular uma guerra com 10 mil soldados os técnicos tinham de adicionar manualmente vários sons num só ficheiro e chegar a um produto final que imitava a sensação auditiva de uma batalha. Com este programa isso já não é necessário: nós dizemos ao computador que queremos o som de 10 mil soldados espalhados ao longo de 1 quilómetro quadrado e ele consegue construí-lo automaticamente”, explica o engenheiro eletrotécnico e informático ao Observador.

A aventura de Nuno Fonseca por Hollywood começou há um ano e meio, quando esteve em Los Angeles para apresentar um trabalho numa conferência de som. “Comecei a enviar emails para os estúdios de cinema e houve uma, muito especial, que me respondeu”, conta Nuno. Era a Skywalker Sound, a empresa fundada por George Lucas quando começou a criar os filmes da saga Guerra das Estrelas. Quando esta, que é uma empresa de referência na área, comprou o programa, outros gigantes do cinema seguiram os mesmos passos.

O filme “Batman vs. Super-Homem: O Despertar da Justiça” não foi o primeiro onde se ouviu (literalmente) esta mão portuguesa: o software de Nuno Fonseca — que começou a ser desenvolvido em 2012, quando o engenheiro acabou o doutoramento — já foi utilizado para criar os sons de outras grandes produções, como “Poltergeist”, “A Floresta” ou “Steve Jobs”.

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