Era uma velha drogaria. Daquelas onde clientes variados entram habitualmente, na esperança de ali encontrarem algo que lhes resolva uma necessidade ou um problema. De certa forma, o número 233 da Rua Silva Carvalho, em Lisboa, continua a ter a mesma missão, só que agora é sob a forma de um restaurante, o Dois.três.três. O freguês é carnívoro? Faça favor de entrar. Vegetariano ou vegan? Não faltam soluções. E se não pode comer glúten nem lactose, tem aqui mais um espaço para colocar no mapa.

O principal critério é que os alimentos sejam saudáveis, conta ao Observador Marta Loureiro, a proprietária. E estes podem sê-lo na forma de carne, de peixe, de vegetais e até de bolos. Marta não pode comer glúten nem lactose, pelo que o seu primeiro restaurante em Lisboa (já trabalhou na restauração, no Algarve) tinha de ter comida de que ela pudesse desfrutar. Escolheu instalar-se em Campo de Ourique, mesmo ao lado da rua D. João V, por ser uma zona “com muitas tascas tradicionais” e “pouca oferta para quem tem restrições alimentares”, explica. “Faço isto a pensar nas pessoas que são diferentes”, diz a proprietária, criativa de profissão.

O Dois.três.três tem duas salas para 25 pessoas e um pátio ao ar livre, onde cabem mais dez. Menos, quando o sol aparece forte (pelo menos enquanto ainda não há toldo). As prateleiras brancas da drogaria que ali funcionou durante meio século mantêm-se, mas agora estão cheias de livros sobre cozinha vegetariana e chás orgânicos ingleses para venda. O teto tem o relevo típico dos edifícios antigos e Marta Loureiro também decidiu manter, no mesmo sítio, o letreiro com o lema “Para bem servir e merecer a vossa preferência“. Nas paredes há fotografias de C.B. Aragão em exposição, que podem ser compradas pelos clientes. “Se aparecer mais alguém que queira expor, também funcionamos como galeria.”

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O pátio é pequeno e tranquilo. © Fábio Pinto / Observador

Na cozinha está Ana Burguete. Para cada hora de almoço tem de preparar um prato vegan, um prato de carne ou peixe que não leva glúten, e salgados, como a galette, que é uma empada aberta de queijo, abóbora e nozes. Quando o Observador lá esteve, o prato de peixe era bacalhau com natas e batata-palha sem glúten, um ingrediente “muito difícil de arranjar sem contaminação de fábrica”. Isto é, sem aqueles avisos que normalmente vêm nas embalagens a alertar o consumidor que aquele alimento pode conter vestígios de amendoim, ovos, trigo, sulfitos e sabe-se lá mais o quê.

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O menu de almoço muda todos os dias e inclui um prato à escolha, uma sopa e o chá do dia. Também há três menus vegan de pequeno-almoço: o menu iogurte (3,50€) é composto por iogurte com granola e fruta mais uma torrada, o menu chá do dia traz um bolo (3€) e há ainda outro com o sumo do dia mais uma torrada (3€). “Faço com pasta vegetal de frutos secos ou húmus”, explica.

Sábado é dia de brunch. Por 12€ vão para a mesa três variedades de pão, queijo flamengo e brie, fiambre, bacon, iogurte com fruta e granola, ovo cocotte ou mexido, uma fatia de bolo, frutos secos, pão alemão com abacate e salmão fumado, uma bebida quente e uma bebida fria. Para as crianças há um brunch à altura delas, mais pequenino nas quantidades e no preço (4€). Até há pouco tempo, sábado também era dia de feijoada à brasileira, estando agora no seu lugar uma moqueca.

Fora das refeições há sempre, por exemplo, as pequenas energy balls vegan, feitas de tâmaras ou figos, frutos secos, aveia sem glúten e fruta. Scones, tostas, bolachas, panquecas e bolos vegan sem lactose também moram no Dois.três.três. Das 17h30 às 19h00 há uma happy hour com os bolos do dia a serem vendidos com desconto, bifanas em bolo do caco e descontos nas bebidas alcoólicas — há vinho a copo, gin, uísque e vodka.

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A courgete recheada com legumes e acompanhada por salada de lentilhas, um dos pratos do dia. Ao lado está o chá biológico e o bolo de chocolate sem glúten nem lactose. © Fábio Pinto / Observador

A pensar no verão e nas pessoas que fogem do centro em direção às praias, Marta Loureiro está a planear fazer cestos de piquenique para que os clientes possam levar comida saudável para comer ao pé do mar. E para que eles também aprendam algumas receitas, brevemente haverá workshops de comida e de hortas verticais, previstos ao fim de semana.

“Hei de ser criativa para o resto da vida, por isso o que eu quero é fazer uma grande família no bairro”, diz a proprietária. Às quintas-feiras, às 16h00, há um grupo que se reúne ali para ensinar e aprender a fazer tricô e croché. “Faço questão de fazer boa vizinhança com as lojas aqui da zona, comprar o mais possível às mercearias, ao talho e às drogarias.” O mesmo se aplica aos clientes. Marta quer rever muitas caras e, por isso, faz as vontades todas “aos esquisitinhos”, isto é, a quem pede um prato mas quer mudar-lhe ingredientes porque não gosta de determinado alimento. “Para bem servir e merecer a vossa preferência”, pois claro.

Nome: Dois.três.três — Comida Viva
Morada: Rua Silva Carvalho, 233, Lisboa (Campo de Ourique)
Telefone: 21 822 5978
Horário: De segunda a sexta-feira das 09h30 às 19h00, sábados das 19h30 às 17h00
Site: www.facebook.com/Doistrestres-1523402144635354