“Carneiros”

Muito de vez em quando, aterram nas salas uns filmes excêntricos, provindos de cinematografias pequenas ou distantes, que colecionam prémios nos festivais e viajam bem, para onde quer que os enviem. É o caso de “Carneiros”, chegado da Islândia e realizado por Grimur Hákonarson. Ganhou a secção paralela Un Certain Regard do Festival de Cannes de 2015, e vários prémios noutros festivais, e foi aplaudido da Austrália ao Irão. É um filme sobre a importância dos carneiros na história, na economia, na cultura e na vida social dos islandeses, revelada através de uma história de amor fraternal, protagonizada por dois irmãos que criam carneiros e apesar de serem vizinhos, estão incompatibilizados há 40 anos. E se foi por causa dos carneiros que se zangaram quando eram jovens, é por causa dos carneiros, e de uma terrível doença que os atinge, que vão retomar os laços de família. Se está à procura de um filme situado nos antípodas dos “blockbusters” de Verão, não vá mais longe: é esta circunspecta tragicomédia sobre homens e ovinos “made in” Islândia.

“Refrigerantes e Canções de Amor”

Apresentando-se como uma comédia romântica passada no mundo da música, a primeira longa-metragem escrita por Nuno Markl, com realização de Luís Galvão Teles, é mais um exemplo da dificuldade que há em Portugal para se fazer cinema “mainstream” apetecível para o público e para a bilheteira. Há marcas da fértil imaginação, da vontade de fazer original e do peculiar sentido de humor de Nuno Markl por toda a parte, da história até à conceção das personagens e às situações em que se se envolvem (Ivo Canelas é um músico que pertencia a um duo de sucesso e faz agora vida a compor “jingles” publicitários, e que se apaixona por uma rapariga de quem só conhece a voz, porque ela recusa-se a tirar o fato de dinossaura cor-de-rosa que usa para promover um sumo da empresa de refrigerantes que o contratou), mas o filme é incoerente, caótico, espalhafatoso e estriado de sub-intrigas, e tem uma profusão de participações e aparições ridículas ou gratuitas de gente da música. Com um argumento bem desbastado e polido, e uma realização que não confundisse comédia com sobre-excitação geral, “Refrigerantes e Canções de Amor” teria sido perfeitamente consumível, em vez de indigesto.

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https://youtu.be/qBgRrWqk9qo

“Mistérios de Lisboa”

Os cinco anos da morte do realizador Raúl Ruiz, bem com os 75 anos do seu nascimento, são o pretexto para a reposição de “Mistérios de Lisboa” na sua versão para cinema e na da série televisiva em seis episódios, remasterizada. Mostrando que Camilo Castelo Branco no cinema pode – e deve – ser mais do que “Amor de Perdição”, Ruiz e o argumentista Carlos Saboga conseguiram transportar para imagens as mais de 600 páginas deste livro que nasceu como um folhetim jornalístico, sem se perderem, e nos deixarem à nora, no denso, atarefado e povoadíssimo enredo, que alinha e movimenta dezenas de personagens, atravessando várias gerações e muitos países, e acumulando peripécias. Do elenco, entre outros, constam Adriano Luz, Maria João Bastos, Ricardo Pereira, Afonso Pimentel, Albano Jerónimo, Joana de Verona, Rui Morrison, Léa Seydoux, Melvil Poupaud, Catarina Wallenstein, Carloto Cotta ou Clotilde Hesme.

“Star Trek: Além do Universo”

No princípio, em 1966, havia uma série de televisão criada por Gene Roddenberry. Dela nasceu uma marca, um culto e um negócio multimilionário. “Star Trek: Além do Universo”, estreia-se mesmo a tempo dos 50 anos de “O Caminho das Estrelas”. É a 13ª longa-metragem, e a terceira da nova incarnação cinematográfica. A ação passa-se numa linha temporal alternativa, a “Kelvin timeline”, na qual as personagens da série original são ainda jovens, mas já formam a tripulação da ‘Enterprise’. J.J. Abrams ainda está ligado à produção, mas passou a realização para Justin Lin, o homem que deu novo fôlego à série de filmes “Velocidade Furiosa”. Co-escrita pelo actor inglês Simon Pegg, que também interpreta a personagem de Mr. Scott, esta deve ser, das últimas fitas da série, aquela que mais se esforça não só por cultivar a nova geração de “Trekkies”, como também por agradar aos fãs mais antigos, embora esteja condenada à formatação estereotipada, ao gigantismo codificado e à espectacularidade digital da fábrica de superproduções em massa do cinema americano. “Star Trek: Além do Universo” foi escolhido como filme da semana pelo Observador, e pode ler a crítica aqui.