Uma empresa de Donald Trump fez negócios com Cuba em 1998, altura em que Fidel Castro era o presidente do país, e em que o embargo comercial imposto pelos Estados Unidos impedia qualquer cidadão norte-americano de fazer negócios em Cuba sem autorização governamental. A empresa gastou pelo menos 68 mil dólares (cerca de 60 mil euros) numa primeira viagem à capital cubana. A revelação resulta de uma investigação da revista NewsWeek, que ouviu antigos funcionários de Trump envolvidos no negócio.

Os factos remontam a 1998, quando um conjunto de representantes da Trump Hotels & Casino Resorts, de Donald Trump, viajaram a Havana para um encontro com membros do governo cubano, banqueiros e empresários do país. O próprio Donald Trump esteve envolvido na preparação da viagem. De acordo com um antigo funcionário da empresa, o objetivo da viagem de negócios a Havana era garantir possíveis investimentos futuros, caso o governo norte-americano levantasse o embargo.

O dinheiro não foi gasto diretamente pela empresa do milionário, mas, sim, por uma consultora — a Seven Arrows — que pagou a viagem e depois cobrou o dinheiro à Trump Hotels & Casino Resorts. Num documento divulgado pela NewsWeek, lê-se que a consultora aconselhou a empresa de Trump a declarar os gastos como se fossem em nome de uma instituição de solidariedade, que era a única forma de o investimento em Cuba não ser sancionado pelo governo norte-americano. Na carta, enviada em fevereiro de 1999 a um porta-voz da empresa de Trump, lê-se até qual a instituição mais utilizada neste tipo de esquema — a Caritas Cuba (apesar de o nome aparecer mal escrito na carta).

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Mas, de acordo com Richard Matheny, presidente da secção de segurança nacional e relações comerciais da sociedade de advogados Goodwin, ouvido pela NewsWeek, o facto de ter sido a consultora Seven Arrows a gastar o dinheiro, e a ser reembolsada pela empresa de Trump, não reduz a ilegalidade do negócio. “O dinheiro que a empresa de Trump pagou à consultora é dinheiro no qual um cubano tem interesse, e foi gasto já com a perspetiva de ser reembolsado” explica o especialista, sublinhando que “tal seria ilegal. Se o OFAC (Gabinete de Controlo dos Ativos Estrangeiros) descobrisse isto e encontrasse provas de má conduta intencional, poderia ter encaminhado o processo para o Departamento de Justiça”.

O mais curioso é que, logo em 1999, Trump candidatou-se à presidência dos Estados Unidos, pelo Partido Reformista. No lançamento da campanha, Trump discursou em Miami perante dezenas de exilados cubanos, afirmando que o embargo era necessário e devia manter-se. “Como sabem, colocar dinheiro em Cuba não significa que o dinheiro vá para o povo cubano. Vai para o bolso de Fidel Castro. Ele é um assassino. O embargo tem de se manter, nem que seja porque se se mantiver, Fidel vai cair”, disse Trump no discurso, garantindo que nunca iria investir em Cuba enquanto Castro não fosse retirado do poder. Poucos meses antes, contudo, tinha feito negócios em Cuba.

A diretora de campanha de Trump, Kellyanne Conway, começou por negar os investimentos de Trump em Cuba, mas acabou por, mais tarde, admitir que Trump contornou a lei. “Eles pagaram esse dinheiro em 1998”, explicou num programa de televisão norte-americano, apesar de insistir que os negócios nunca se chegaram a concretizar, após a viagem a Cuba. Trump já veio negar qualquer negócio naquele país. “Não, nunca fiz nada em Cuba. Nunca fiz um negócio em Cuba”, disse o candidato republicano à presidência.

Entretanto, a candidata democrata, Hillary Clinton, já veio exigir explicações a Trump. “Temos leis no nosso país”, disse Clinton aos jornalistas, citada pelo The Telegraph, acrescentando que Trump “desrespeitou deliberadamente” a lei, pondo “os seus interesses pessoais e de negócios à frente das leis, dos valores e das políticas dos Estados Unidos”. Num comunicado posterior, Hillary acusou Trump de agir “contra os interesses nacionais”.