O Partido dos Trabalhadores (PT), dos ex-Presidentes Lula da Silva e Dilma Rousseff, foi o principal derrotado na primeira volta das eleições municipais do Brasil, que decorreram este domingo. Entre as 26 capitais estaduais, o partido conseguiu apenas a reeleição para governar Rio Branco, do estado do Acre. Na segunda volta, agendada para 30 de outubro, o partido irá disputar ainda a presidência da câmara municipal do Recife.

Nesta primeira volta, numa altura em que a maior parte dos resultados estão apurados, o partido conta com 251 presidências de câmara, menos de metade das que conquistou no final das duas voltas em 2012 (635), descendo do terceiro para o décimo partido mais votado. O partido perdeu, inclusive, várias autarquias na região de São Paulo que costumava controlar, além de ter sido afastado o atual presidente de câmara de São Paulo, principal cidade do país, Fernando Haddad.

Se, nas eleições de 2012, o PT tinha sido o terceiro partido mais votado, com 630 autarcas eleitos, este ano caiu para décimo lugar, sendo ultrapassado por diversos partidos de menor dimensão. Um gráfico do G1 mostra a comparação entre os resultados de 2012 e 2016 — o PT nem aparece nos mais votados, tendo registado uma queda de 59,4% no número de autarcas eleitos. O PMDB, do atual presidente, Michel Temer, foi o grande vencedor, com 1.027 autarcas eleitos, seguido pelo PSDB e pelo PSD, que registaram subidas relativamente a 2012.

O PT, que governou o Brasil por 13 anos, foi castigado após Dilma Rousseff ter sido destituída do cargo, por irregularidades orçamentais, a 31 de agosto, num processo polémico e numa altura em que enfrentava uma grande impopularidade. Lula da Silva, uma figura histórica do partido, é arguido em dois processos da Operação Lava Jato, que investiga o maior esquema de corrupção da história do Brasil.

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De resto, o partido tem sido a força política mais implicada nos esquemas de corrupção que afetaram sobretudo a petrolífera Petrobras, com várias detenções, incluindo ex-ministros. Esta derrota beneficiou outros partidos, nomeadamente alguns ligados ao governo do Presidente Michel Temer, que assumiu funções na sequência do afastamento de Dilma Rousseff.

Concorreram nestas eleições 496.898 candidatos a vereador, presidente e vice-presidente de câmara de 35 partidos em 5.568 municípios.

Sendo que no Brasil é obrigatório votar, a abstenção foi de 17,5%, um pouco mais do que nas eleições de 2012, e também os votos brancos e nulos aumentaram em vários locais.

Outra novidade destas eleições foi a redução do tempo de campanha, com menos tempo de propaganda nas televisões e rádios, e ainda a proibição de financiamento empresarial, que afetou as campanhas.

O PSDB está já a tentar fazer uma leitura nacional destes resultados, avança a Folha de São Paulo. O líder do partido e mais provável candidato ao planalto em 2018, Aécio Neves, já comentou as projeções e disse: “Se há um partido que sai fortalecido destas eleições [para as nacionais de 2018] é o PSDB (…) O PT está a ser dizimado em várias regiões, inclusive em locais onde historicamente tinha bons resultados”.

Durante o dia o voto da ex-presidente do Brasil, Dilma Rousseff, em Porto Alegre, foi marcado por tumultos. Os jornalistas foram impedidos de acompanhar o ato eleitoral da antiga chefe de estado. O argumento do juiz eleitoral foi o de que a ex-Presidente do Brasil é agora uma “cidadã comum”. Dilma protestou: “Sempre votei aqui. Nunca houve isso. Nunca a Brigada foi chamada, nunca fecharam as portas (…) é lamentável”.

Já o antigo presidente do PT, Lula da Silva, votou em São Bernardo do Campo, São Paulo, acompanhado do candidato do PT àquela autarquia, Tarcisio Secoli (PT) e do atual presidente da câmara da cidade Luiz Marinho. Sobre São Paulo, Lula afirmou que a cidade “não pode correr o risco de não reeleger um candidato da qualidade de um Fernando Haddad para eleger um aventureiro sobre o qual não se sabe nada. São Paulo não merece isso”. Depois disso Lula comparou ainda Doria ao ex-presidente Fernando Collor de Mello.

O presidente brasileiro Michel Temer também votou em S.Paulo, mas na Zona Oeste, logo pelas 7h52, sendo o primeiro eleitor a votar na sua mesa de voto e mais de três horas antes do que estava agendado.