O chefe do governo espanhol, Pedro Sánchez, admite demitir-se do cargo. Numa carta no X (antigo Twitter), o secretário-geral do PSOE relaciona a possível demissão, que será comunicada aos meios de comunicação social na próxima segunda-feira, com o caso da mulher Begoña Gómez, que está a ser investigada por um tribunal de instrução, após denúncias de alegado tráfico de influências e corrupção.

“Necessito parar e refletir. Tenho de responder à pergunta se vale a pena, apesar do que a direita e a extrema-direita pretendem fazer da política”, escreveu Pedro Sánchez numa “carta à cidadania”, em que divulga igualmente que cancelou a agenda pública para os próximos dias. O chefe do governo espanhol garante ainda que não está “apegado ao cargo”.

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Na missiva, Pedro Sánchez dá a sua visão sobre o processo judicial da mulher: “Um tribunal de Madrid abriu diligências prévias contra a minha mulher, a pedido de uma organização de extrema-direita chamada Manos Limpias, para investigar os supostos crimes de tráfico de influências e corrupção nos negócios”.

Espanha. Mulher de Pedro Sánchez investigada por alegado tráfico de influências e corrupção

“Parece que o juiz chamará a testemunhar os responsáveis de dois meios digitais que têm publicado sobre o assunto. Na minha opinião, são dois meios de orientação de direita e de extrema-direita. Como é lógico, a Begoña defenderá a sua honra e colaborará com a Justiça para esclarecer uns factos tão escandalosos, como inexistentes”, afirma Pedro Sánchez.

Apontando o dedo aos partidos de direita e alguns órgãos de comunicação sociais, Pedro Sánchez acusa-os de inventar “falsidades”: “Esta estratégia de assédio tem-se perpetuado durante meses”.  

Pedro Sánchez ataca depois o líder do Partido Popular (PP), Alberto Núñez Feijóo, e o presidente do VOX, Santiago Abascal, acusando-os de colaborar com uma “galáxia digital de extrema-direita”. “De facto, foi o senhor Feijóo quem denunciou tudo isto junto do gabinete dos conflitos de interesses”, um órgão público que avalia as incompatibilidades no desempenho de altos cargos do Estado.

“A denúncia foi arquivada pelo organismo”, prossegue o socialista, que diz que o VOX e o PP instrumentalizaram depois a sua “maioria conservadora no Senado”, que “impulsionou uma comissão de investigação [para] esclarecer os factos relacionados com este assunto”: “Como é lógico, faltava a judicialização do caso. É o passo que acabaram dar”.

Por tudo isto, Pedro Sánchez refere não ter dúvidas que se trata de uma “operação de assédio” para o derrubarem, assim como a “opção política” que representa: “Progressista, apoiada eleição após eleições por milhões de espanhóis, baseada no avanço económica, justiça social e regeneração democrática”.

Insistindo que a direita e a extrema-direita “não aceitaram os resultados” das eleições de 23 de julho, em que o PP venceu sem maioria e o PSOE formou uma coligação com partidos à sua esquerda e independentistas, o secretário-geral socialista acusa a direita de o atacar na sua “vida pessoal”, já que não o pode fazer politicamente.

“Chegados a este ponto, a pergunta que legitimamente faço é: vale a pena tudo isto?”, questionou-se Pedro Sánchez, respondendo: “Sinceramente, não sei”. “Este ataque não tem precedentes, é tão grave que necessito parar e refletir com a minha mulher”, rematou o socialista.