“Vamos ter de consolidar as nossas defesas face ao imprevisto e isso passa pelos meios humanos e técnicos de vigilância”, declarou esta segunda-feira, ao fim do dia, o diretor-adjunto do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAAA).

Em entrevista ao Observador, José Alberto Seabra comentou o acidente ocorrido no domingo no terceiro piso do museu, envolvendo a presumível queda de um visitante e o consequente derrube de São Miguel Arcanjo, uma escultura de fins do século XVIII.

“Não foi por haver falta de vigilantes”, respondeu José Alberto Seabra à pergunta sobre se a queda do arcanjo vem dar razão ao diretor do MNAA, António Filipe Pimentel, que em setembro disse publicamente que a falta de vigilantes no museu representa um perigo para as obras de arte expostas.

“São 64 pessoas para 82 salas abertas ao público. De certeza absoluta que um destes dias há uma calamidade no museu”, disse Pimentel, envolvendo-se numa polémica que terminou com um pedido de desculpas ao ministro da Cultura.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O adjunto disse ao Observador que a vigilância “é um tópico muito comum nos nossos tempos nos museus em Portugal, como se sabe, mas não pode ser estabelecida uma relação de causa-efeito, foi um acidente e teve uma grande dose de imprevisto.” Ainda assim, sublinhou: “O reforço dessa componente só pode ser bom.”

Segundo o mesmo responsável, havia um vigilante na sala, no momento em que se deu o acidente.

Contactado, o ministro da Cultura, Castro Mendes, não quis comentar o caso, mas a assessora de imprensa, Teresa Bizarro, indicou está a decorrer um concurso público para a contratação de três novos vigilantes a tempo inteiro para o MNAA. No próximo ano, disse a mesma fonte, serão abertos concursos para 37 vigilantes a distribuir por museus de todo o país.

A escultura danificada foi entretanto recolhida e já desceu à sala de conservação e restauro que funciona no edifício do MNAA. O terceiro piso vai reabrir ao público nesta terça-feira, sem ser alterada a disposição das restantes obras.

Para já, foi feita uma “avaliação prévia” de São Miguel Arcanjo por três técnicos da área da conservação e por conservadores de escultura do museu. “Os danos foram consideráveis, logo, nunca é uma avaliação simples, irá demorar ainda alguns dias”, afirmou.

“Não sabemos quanto tempo irá demorar o restauro, não sei se é um mês ou um ano, é uma informação técnica difícil de apurar e ainda não temos essa avaliação”, adiantou José Alberto Seabra.

Os custos envolvidos na recuperação da escultura também não foram calculados, mas Seabra adianta que esse trabalho será feito “com meios próprios”: a equipa de restauradores do museu e o apoio do Instituto de Conservação José de Figueiredo, da Direção-Geral do Património.

“Não há aqui contratações externas, vamos é ocupar meios técnicos do Estado, o que não terá uma fatura, fique claro. Os bons técnicos estão dentro do museu e sabem bem deste género de obras bem portuguesas”, afirmou o responsável.

Em princípio, o alegado responsável pela queda da escultura, um turista que visitava o museu no domingo, não terá de pagar qualquer compensação ao estado pela destruição parcial da obra.

“Não tendo sido um ato de vandalismo, deduzo que não haja lugar ao pagamento de indemnizações, mas isso cabe à Direção-Geral do Património avaliar”, explicou o diretor-adjunto.

“São situações a que estão sujeitos os museus que têm público, sempre foi assim. Regozijo-me que tenha sido um acidente, foi um ato involuntário, não intencional”, reforçou.