A opinião generalizada é que um automóvel grande e pesado é capaz de defender melhor a nossa integridade física em caso de acidente grave. Sobretudo quando comparado com outro, mais pequeno e ligeiro. Mas será que é mesmo assim e que, nisto da segurança, o tamanho importa?

Muito se evoluiu em matéria de segurança e os automóveis modernos são exímios – uns mais do que os outros, é certo – em absorver a energia resultante do embate, dissipando-a enquanto se deformam. É por isto que um carro de 1960 após embater de frente num muro apresentava deformações ligeiras, mas os ocupantes potencialmente tinham falecido fruto da desaceleração brutal a que foram sujeitos, enquanto um modelo mais recente fica a parecer um chapéu de um pobrezinho após um choque similar, mas a família vai toda a andar para casa e sem grandes danos, à excepção da carteira. Ou nem isso, se o veículo tiver cobertura contra danos próprios.

Mas se a evolução dos automóveis é indiscutível e transversal a todos os segmentos, há uma ideia enraizada de que os carros de maior porte têm zonas deformáveis de maiores dimensões, capazes de absorver uma maior quantidade de energia. Mas será que é mesmo assim? É que é bom ter presente que um carro maior é quase sempre mais pesado, tendo por isso mesmo de encaixar um esforço superior.

Grande ou pequeno

Para esclarecer esta dúvida, sobre se um veículo de maiores dimensões é mais seguro para os seus ocupantes, sejam eles adultos ou crianças de tenra idade, vamos recorrer aos resultados dos crash tests realizados pelo Euro NCAP (European New Car Assessment Program) e analisar dois modelos diametralmente apostos, em matéria de dimensões e de peso, mas de um mesmo construtor, para que não seja o potencial tecnológico a fazer a diferença.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A nossa escolha recaiu em duas das referências do momento, de um lado o Audi Q7, um dos mais recentes e robustos SUV de grande porte, e do outro o Audi Q2, um SUV compacto que apresenta menos cerca de um metro de comprimento e 700 kg de peso. São dois veículos recentes, apesar do maior e mais caro Q7 incluir necessariamente um maior leque de equipamento e de sistemas de segurança, destinados a proporcionar uma superior protecção, tanto activa quanto passiva.

Quem protege melhor os adultos e as crianças?

Se nos concentrarmos nos impactos contra uma sólida parede de betão a 64km/h, protegida ou não com uma estrutura deformável – destinada a simular, no caso de a possuir, um choque contra outro veículo, capaz ele também de absorver uma parte da energia –, o Audi Q7 consegue uma percentagem de protecção de 94% (equivalente a 36,1 pontos obtidos através da avaliação de todos os tipos de embates e em todas as zonas do corpo) para os adultos que ocupam os bancos da frente, contra 93% (35,6 pontos) do Q2, uma diferença perfeitamente marginal. E, se esmiuçarmos os dados recolhidos pelos sensores dos bonecos utilizados nos crash tests, verificamos mesmo que o desempenho de ambos os veículos está ao nível dos melhores das respectivas classes, mas o esforço a que é submetido o tórax do condutor é até ligeiramente inferior no Q2.

No que respeita ao embate lateral a classificação é a melhor (good) em ambos os veículos, o mesmo acontecendo em relação ao esforço a que é submetido o pescoço durante um embate na traseira.

As crianças, sempre que sentadas recorrendo a sistemas de retenção próprias para a idade, o Q7 volta a ser ligeiramente melhor, ao reunir 88%, mas nada de verdadeiramente importante face aos 86% do Q2, que volta a surpreender pela positiva.

Peões e sistemas de segurança

Se um dia for atropelado por um destes dois veículos, saiba que ambos figuram entre os que melhor cuidam dos peões, com o Euro NCAP a atribuir 70% a cada um deles. Mas por detrás desta igualdade na classificação, há diferenças em relação às zonas em que infligem mais danos. Assim, o Q7 é melhor ao nível da cabeça (18,8 pontos), tanto mais que está equipado de série com capot do motor activo, que se afasta do motor em caso de atropelamento (criando mais espaço para deformação), contra 15,2 pontos do Q2. Mas no que diz respeito ao impacto na bacia e nas pernas, o Q2 é mais “amigo” do peão, ao atingir 3,3 pontos e 6 pontos, contra respectivamente 1,4 e 5,2 pontos do Q7.

[jwplatform 5UD5B6KF]

Se tivermos presente que o mais acessível dos Q2 é proposto por 29 mil euros, valor que é uma verdadeira pechincha face ao mais modesto dos Q7, à venda por mais de 80 mil euros, é fácil perceber o motivo que leva o maior dos SUV da Audi a oferecer mais equipamento de segurança, mais ao nível das ajudas à condução, aqui residindo a explicação para a diferença entre 76% conquistados pelo Q7 e os 70% do Q2.

[jwplatform Fep8HcBD]

Em jeito de resumo e dentro da gama do mesmo fabricante, os automóveis maiores e mais caros podem ser mais confortáveis, utilizar materiais melhores e usufruir de níveis de equipamento mais refinados. Mas, em caso de acidente grave, não conseguem justificar o custo adicional a que obrigam face aos modelos mais pequenos que, aqui representados pelo novo Q2, provaram ser surpreendentemente seguros.