Foi numa entrevista tensa e emocionante que Josh Edmondson, ciclista profissional, com 24 anos de idade, confessou em exclusivo às câmaras da BBC que cometeu infrações em várias competições enquanto representava a equipa britânica Sky. Mais: admitiu que, depois de o ter feito, passou por uma profunda depressão.
O caso remonta aos anos de 2013 e 2014, tinha Josh na altura 21 anos – e foi quando começou a acusar a pressão da alta competição. Por isso, recorreu a uma prática estritamente proibida: injetou-se, violando a regra ‘no-needle’ (‘sem agulha’). Contou que o fazia “duas ou três vezes por semana” e que o processo durou cerca de um mês. A substância que o ciclista administrou eram legais, no entanto, a forma como o fez não. A injeção intravenosa, ou seja, através de seringas está proibida desde 2011 pela Union Cycliste Internationale, entidade que regula o ciclismo mundial.
“Em 2014 estava sob muita pressão”
Foi em Itália que Josh encontrou o analgésico que tanto procurava: o tramadol, uma substância que alivia a dor moderada ou grave. Quando as obteve, regressou a Nice, onde estava na altura em treino e foi então que começou a administrar a substância através de injeção. Josh encontrou no tramadol, que é considerado legal pelas entidades reguladoras do ciclismo, um escape ao stresse que sentia nas várias provas em que entrava.
“Em 2014 eu estava sob muita pressão, não só da equipa, mas por mim mesmo”, contou Josh. A possibilidade de ver o contrato renovado e a pressão de representar uma equipa como a Sky numa prova do Grand Tour (neste caso a Vuelta a Espanha) demonstraram ter sido motivos mais do que suficientes para Josh tomar a decisão de infringir as leis do ciclismo.
A situação manteve-se em segredo. Mas isso durou pouco. Quando participou na Volta à Polónia, um colega com quem partilhava quarto descobriu e fotografou os frascos e as seringas para mostrar à administração e equipa médica da Sky. Quando Josh regressou ao quarto, reparou que o material estava em cima da cómoda e não no sítio onde o tinha guardado. Foi aí que tomou a decisão de falar com o diretor clínico da equipa, Steve Peters. No entanto, as fotografias já tinham sido divulgadas aos responsáveis e, naquele momento, Josh não conteve as lágrimas tal era o pânico que sentia, contou agora na entrevista.
O caso nunca foi divulgado por nenhum membro da Sky e o médico explicou porquê: quis proteger o atleta. Apesar do ato de Josh ter sido condenável, na opinião do médico, o ciclista “tomou más decisões porque não estava bem, portanto. Em primeiro lugar temos de tratá-lo e, de seguida, chegar ao fundo da questão.” Abrir uma investigação disciplinar só iria agravar ainda mais a saúde do atleta, defende.
Os efeitos secundários da decisão
Josh contou ainda à BBC os efeitos secundários, físicos e psicológicos, que sentiu depois das injeções. A nível físico, as dores musculares eram insuportáveis: “Sentia-me como se alguém me tivesse atirado de umas escadas abaixo”, contou. Mas, psicologicamente, os efeitos secundários revelar-se-iam muito maiores. A ressaca da substância deixou-o deprimido e, quando deixou de a tomar, entrou em depressão, o que fez com que se fechasse em casa durante dois meses.
Passados três anos, Josh decidiu contar a sua má experiência e deixou avisos: “A coisa mais perigosa sobre isto é que nunca sabes quando estás a chegar ao teu limite. Não é uma droga que melhora o teu desempenho”. O ciclista, agora a representar a equipa NFTO Pro Cycling, afirma estar pronto para falar sobre o seu passado com as entidades antidoping.