“Humilhações dispensáveis, interferências abusadoras ou desigualdades de tratamento não me parece que aprofundem o projeto comum nem que combatam os extremismos nacionalistas.” Rui Rio resume assim a sua crítica à União Europeia e ao projeto europeu, num artigo de opinião publicado hoje no Diário de Notícias. Para o economista e partner da consultora Boyden, é preciso “questionar a consciência europeia” e não faltam exemplos que ilustram o que tem corrido mal – e não iliba Portugal de responsabilidades neste processo, “por prolongada inação política e ausência de uma defesa firme do interesse nacional”, acusa.

Sempre em tom crítico, Rui Rio recorre aos recentes casos da banca em Portugal para atacar uma “Europa burocratizada” que revela pouco respeito pelos portugueses – isto porque, no final, “são sempre os contribuintes nacionais que acabam a pagar a fatura das irrazoáveis exigências”. Lá no fundo, reforça, “todos suspeitamos que, se de eine deutsche bank se tratasse, a atitude da burocracia comunitária não seria exatamente a mesma que tem para com eine portugiesische bank”, expressões alemãs que lhe dão o mote para o título do artigo: “So nicht, meine herren (assim não, meus senhores)”.

Qual a vantagem de o Estado ter de ser um acionista menor do Novo Banco, ao não poder sequer utilizar a sua participação minoritária na justa proporção do dinheiro que lá tem?”

O recente acordo de venda do Novo Banco aos americanos da Lone Star é um dos alvos das críticas. O economista não entende como é que se exigem tantas “regras (e regrinhas) de um qualquer concurso público para adjudicação de uma obra de cem mil euros; mas, pelos vistos, noutras instâncias, pode entregar-se um banco a quem muito bem se entende”. E questiona: “qual a vantagem de o Estado ter de ser um acionista menor do Novo Banco, ao não poder sequer utilizar a sua participação minoritária na justa proporção do dinheiro que lá tem?”

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O Banif é também um dos exemplos a que recorre para ilustrar uma situação que não gostaria de ver repetida – um caso onde, acusa, houve desde “falta de transparência” a “prepotência, conduzindo a um “desastroso resultado final”.

Desde a falta de transparência ao seu desastroso resultado final, passando pela prepotência e contradições das instâncias europeias, pela incompetência das anteriores administrações do banco, pela irresponsabilidade política, pela leviandade de alguma comunicação “social”, pelas falhas do Banco de Portugal, pela quebra de confiança no nosso sistema financeiro, pelos atropelos a regras e valores estruturantes da nossa sociedade e pela incapacidade da justiça, tudo isto não pode deixar de concorrer para um enorme sobressalto cívico.”

No caso específico da Caixa Geral de Depósitos, Rui Rio receia que se repita a “intervenção da burocracia europeia para lá do razoável e de muito difícil compreensão”. E, a rematar o seu artigo de opinião, questiona se é com este modelo de atuação que se pretende unir todos os Estados membros em nome de um futuro comum.”